Folha de S.Paulo

Caravana com imigrantes da América Central chega a Tijuana sob ameaças

- -Silas Martí

nova york Quando os ônibus com centenas de imigrantes da América Central chegaram ao longo de toda esta semana a Tijuana, uma cidade mexicana na fronteira com os Estados Unidos, autoridade­s ali talvez já tivessem visto alguns daqueles rostos na televisão.

Mas a recepção não foi nada calorosa. Todos os recémchega­dos, a maioria mulheres com crianças, aguardam agora em abrigos antes de tentar a travessia para os EUA.

Desde que essa caravana partiu há um mês de um povoado na divisa do México com a Guatemala, imagens dos migrantes que fogem da violência em seus países e vêm pedir asilo em solo americano passaram a circular no noticiário.

Entre os espectador­es mais assíduos dessa jornada, está o presidente Donald Trump, que vem chamando de “desgraça” o movimento e pedindo que a polícia barre a entrada de todos na fronteira.

Sua secretária de Segurança Doméstica, Kirstjen Nielsen, também ameaçou o grupo. Ela mencionou fraudes em pedidos de asilo e lembrou que mentir às autoridade­s na fronteira é um crime que pode implicar uma série de punições.

Jeff Sessions, o secretário de Justiça, fez coro, comparando Trump “ao novo xerife do pedaço” ao falar do decreto do presidente que despacha soldados para a divisa com o México e pede mais uma vez a construção de um muro para lacrar a fronteira.

“Deve haver consequênc­ias para ações ilegais”, disse Sessions. “Mas a falta de um muro também é um convite aberto para essas travessias ilegais.”

Enquanto não erguem mais barreiras no deserto que separa os EUA do México, até 4.000 homens das Forças Armadas podem ser deslocados para patrulhar a fronteira —a Califórnia, que tem na cidade de San Diego o ponto mais movimentad­o da divisa, autorizou a ida de 400 soldados, e o Texas deve enviar outros 150.

Mas toda a movimentaç­ão é vista como um teatro inócuo num momento em que prisões na fronteira vêm caindo.

Os migrantes da caravana recém-chegada não somam nem mil —são uma fração ínfima dos 200 mil haitianos que foram presos tentando entrar nos EUA há quatro anos ali.

Seus casos agora serão avaliados um a um. Alguns, se passarem numa primeira triagem, poderão entrar no país mediante o uso de tornozelei­ra eletrônica e serão monitorado­s enquanto seus pedidos de asilo tramitam na Justiça.

Outros podem ficar detidos na delegacia fronteiriç­a para uma série de entrevista­s.

Movimentos como esse também não são novos. O Pueblo Sin Fronteras, grupo que está por trás da caravana, vem organizand­o cortejos parecidos ao longo dos últimos anos como forma de chamar a atenção para a violência em nações da América Central.

Desde a campanha, Trump mostra desdém por imigrantes latinos, chamando mexicanos de estuprador­es e usando episódios de violência da gangue MS13, que surgiu em El Salvador, como exemplos de crimes que aumentaria­m com a entrada de pessoas da região. No primeiro ano de seu mandato, 2017, as detenções de imigrantes sem documentos cresceram 40%.

Em mais um passo na escalada de xenofobia, a Suprema Corte pode validar o veto à entrada de cidadãos de países de maioria muçulmana até o fim desta semana.

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Hans-Maximo Musielik - 25.abr.2018/Associated Press Migrante hondurenha que faz parte da caravana que pretende ir para os EUA caminha com seus filhos por Tijuana

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