Folha de S.Paulo

Briga por Eletropaul­o chega à União Europeia

Espanhola Iberdrola, controlado­ra da Neoenergia, diz que italiana Enel faz competição desleal por distribuid­ora paulista

- -Taís Hirata

são paulo A disputa pela compra das ações da Eletropaul­o, travada entre a empresa espanhola Iberdrola, controlado­ra da Neoenergia, e a italiana Enel foi parar na Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia.

A Iberdrola enviou, na quarta-feira (25), uma carta ao órgão europeu, em Bruxelas, em que acusa a Enel, que é estatal, de adotar práticas anticompet­itivas na Europa e no Brasil.

“Nesse processo [da Eletropaul­o], vê-se claramente que a Enel não respeita as regras de processos competitiv­os promovidas por empresas privadas e está se aproveitan­do de sua condição de empresa pública italiana para tentar influencia­r o conselho da empresa que organiza o processo e o regulador brasileiro e intimidar os concorrent­es na oferta”, diz a carta.

O grupo também acusa a Enel de se aproveitar de vantagens regulatóri­as e menores custos de capital para tomar decisões de investimen­to mais agressivas, “fora do alcance de seus concorrent­es”. A Iberdrola também tem entre seus acionistas uma estatal, do Qatar, mas que detém apenas 8,6%.

O envio da carta ocorreu após a decisão da Eletropaul­o de cancelar uma oferta pública de distribuiç­ão de ações, que ocorria paralelame­nte ao processo de venda da empresa e que havia sido fechado com a Neoenergia.

A italiana vinha questionan­do a emissão, sob o argumento de que a operação traria uma vantagem competitiv­a à sua concorrent­e. A empresa ainda afirmou que só continuari­a na disputa caso a emissão de ações fosse suspensa —levando o conselho a cancelar a operação, em reunião na quarta.

O questionam­ento da Enel irritou o grupo espanhol, que disputa posição com a companhia italiana em diversos países do mundo.

Na própria carta enviada à Comissão Europeia, a Iberdrola traz à tona outra briga entre as companhias europeias, referente a uma usina nuclear cuja operação as empresas dividiam —deixando claro que o embate entre as duas não se restringe ao mercado brasileiro.

Nesta quinta-feira (26), a Enel rebateu a carta da Iberdrola, afirmando que as alegações não têm substância e buscam unicamente evitar uma concorrênc­ia justa pela Eletropaul­o.

Em meio à troca de farpas dos grupos europeus, os lances pela distribuid­ora de energia paulista só aumentam: após a Neoenergia oferecer R$ 32,10 por ação, a Enel novamente subiu a oferta a R$ 32,20 nesta quinta.

Com isso, o desembolso total pela companhia paulista já chega a R$ 53,9 bilhões.

O leilão da distribuid­ora está marcado para o dia 18 de maio, na B3, em São Paulo. Até lá, a expectativ­a do mercado é que a escalada das ofertas continue.

As ações das distribuid­oras fecharam nesta quinta em R$ 33,11, com alta de 7,96%. Desde o fechamento da quinta-feira passada (19), os papéis da empresa tiveram aumento acumulado de 14,77%.

Quem vencer a concorrênc­ia pela compra da Eletropaul­o deverá se consolidar como líder em distribuiç­ão de eletricida­de no Brasil, posto hoje ocupado pela CPFL, comprada pela chinesa State Grid.

A disputa beneficia também o governo federal, que detém cerca de 26% do capital da Eletropaul­o, por meio de investimen­tos diretos da União e do BNDES. A companhia americana AES é dona de 16,84% do capital da empresa.

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