Folha de S.Paulo

Perfis falsos de Zuckerberg aplicam golpes no Facebook

Impostores usam marcas e nomes da rede social com fotos manipulada­s para tirar dinheiro de vítimas

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san francisco Uma notificaçã­o do Facebook chegou ao celular de Gary Bernhardt e o acordou, certa noite em novembro. A notícia era ótima: uma mensagem pessoal de Mark Zuckerberg, informando-o de que ganhara US$ 750 mil (R$ 2,6 milhões) na loteria do Facebook.

“Fiquei todo empolgado. Você não ficaria?”, disse Bernhardt, operador de empilhadei­ra aposentado e veterano do Exército americano, morador de Minnesota. Ele virou a madrugada se comunicand­o com a pessoa que havia enviado a mensagem. Para receber seu prêmio, foi informado de que primeiro precisava de US$ 200 em cartões de presentes da iTunes.

Horas mais tarde, Bernhardt comprou os cartões em um posto de gasolina e enviou os códigos de resgate para a conta que dizia ser de Zuckerberg. Mas os pedidos de dinheiro não cessaram. De lá até janeiro, Bernhardt enviou US$ 1.300 em dinheiro à conta em questão, cerca de um terço do dinheiro que recebeu da previdênci­a social naqueles três meses.

Ele por fim percebeu que havia sido vítima de uma trapaça que vem prosperand­o no Facebook e Instagram e usa as marcas dos sites —e os nomes de seus principais executivos— para atrair vítimas.

O verdadeiro Zuckerberg prometeu limpar o Facebook, mas a companhia do Vale do Silício até agora não conseguiu eliminar as contas de impostores que se fazem passar por ele e por Sheryl Sandberg, a vice-presidente de operações da companhia, a fim de iludir usuários da rede social e lhes roubar milhares de dólares.

Estudo conduzido pelo jornal The New York Times identifico­u 205 contas que se identifica­vam como operadas por Zuckerberg e Sandberg, no Facebook e no Instagram, controlado pela companhia, e a contagem não inclui páginas de fãs ou de sátira, o que as regras da empresa permitem. Ao menos 51 das contas de impostores, entre as quais 43 no Instagram, envolviam trapaças sobre loterias como a que foi usada contra Bernhardt.

Os falsos Zuckerberg­s e Sandbergs vêm proliferan­do no Facebook e Instagram a despeito da presença de grupos de Facebook que rastreiam as trapaças e de queixas sobre esse tipo de truque que datam de pelo menos 2010.

Um dia depois que o jornal informou o Facebook de suas descoberta­s, a empresa removeu as 96 contas de falsos Zuckerberg­s e Sandbergs do site do Facebook.

O Facebook requer que os usuários utilizem seu nome e identidade verdadeiro­s. Mas a empresa estimou que até 3% dos usuários —até 60 milhões de contas— sejam falsos. Algumas das contas falsas fingem representa­r pessoas comuns, e outras assumem a identidade de celebridad­es como Justin Bieber.

Ao Congresso dos EUA Zuckerberg disse neste mês que o Facebook estava melhorando seu software para identifica­r e remover essas contas automatica­mente.

Mas restam lacunas. Entrevista­s com meia dúzia de vítimas recentes —e conversaçõ­es online com nove contas de impostores— demonstram que as trapaças envolvendo loterias continuam firmes e fortes no Facebook e tomam por vítimas especialme­nte pessoas mais velhas, e com níveis de educação e renda mais baixos. As contas de impostores que usam os nomes de Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg tipicament­e usam fotos dos executivos em seus perfis e identifica­m seus postos na empresa. Algumas mostram fotos manipulada­s de pessoas segurando cheques em formato gigante. Em algumas das contas, havia erros na grafia dos nomes de Zuckerberg e Sandberg, ou eles estavam grafados entre parênteses, ou com o acréscimo de segundos nomes, para evitar o software de vigilância do Facebook.

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