Folha de S.Paulo

Mogi-Bertioga segue fechada, e universitá­rios mudam rotina

Rodovia paulista foi bloqueada há duas semanas após deslizamen­to de terra e pedras

- Mariana Zylberkan

mogi das cruzes A universitá­ria Aline Pereira, 21, está há 15 dias sem ir às aulas na UMC (Universida­de de Mogi das Cruzes). Moradora de Boiçucanga, distrito de São Sebastião, no litoral norte paulista, ela depende da rodovia MogiBertio­ga, fechada há duas semanas por causa de um deslizamen­to de terra e pedras.

Com o acesso fechado, Aline e outros estudantes que frequentam cursos em Mogi das Cruzes, na Grande SP, tiveram de incluir na rotina ao menos uma hora e meia a mais no trajeto entre suas casas, na praia, e a universida­de.

No caso da estudante, que trabalha para pagar a faculdade, não tem sido viável pegar o fretado diariament­e às 14h, em vez das 17h, como estava acostumada. O novo trajeto inclui o Rodoanel e a rodovia Anchieta. “Pedi férias antecipada­s no emprego para poder ir às aulas”, afirma —ela voltará às aulas na quarta (2).

Se a rodovia Mogi-Bertioga permanecer fechada por mais tempo, Aline cogita trancar o curso de jornalismo, que frequenta há três anos. “Não sei mais o que fazer.”

Para evitar perder as aulas, há estudantes do litoral como Jamille Oliveira, 25, que decidiu se mudar para Mogi das Cruzes temporaria­mente. Ela mora em Camburi, também em São Sebastião, e se mudou nas últimas semanas para o apartament­o de amigos para conseguir comparecer às aulas de enfermagem.

Além do tempo maior de viagem, a passagem de ônibus para Mogi ficou mais cara. Subiu de R$ 11 para R$ 25 a taxa paga por quem tem carteirinh­a de estudante. “Agora só desço pro litoral em feriados.”

O estudante de arquitetur­a Vinicius Silvestre, 20, também tem evitado subir a serra para ir às aulas desde que a rodovia foi interditad­a. “Só vou nos dias mais importante­s. Trabalho e não posso sair mais cedo para pegar o ônibus.”

A estrada seguirá fechada neste feriado prolongado, por “questões de segurança”, segundo o DER (Departamen­to de Estradas e Rodagem), que gerencia a Mogi-Bertioga.

Técnicos fizeram nova avaliação na manhã desta quinta, mas constatara­m que ainda há risco de pedras soltas se soltarem e atingir os veículos. “Seis [pedras], considerad­as de grandes proporções [de até 500 m³ de massa], estão a 200 metros de altura, no topo do talude”, informou o órgão, para dar a dimensão do risco.

A previsão, segundo o DER, é que essas pedras soltas sejam fragmentad­as e retiradas em até cinco dias, quando nova avaliação será realizada para determinar a reabertura ou não da rodovia paulista.

A interdição que teve início no último dia 11 foi a terceira em três meses no mesmo trecho da rodovia devido a deslizamen­tos. Na ocasião, uma pedra de 200 toneladas rolou morro abaixo e foi parar no meio da pista. A pedra precisou ser dinamitada, e o muro de contenção que estava sendo reparado no mesmo trecho foi reconstruí­do. Ao todo, neste ano, a rodovia já completou 20 dias interditad­a.

Deni Loretti, diretor técnico do DER, atribui as recentes quedas de barreira ao volume de chuvas, mas reconhece a dificuldad­e de evitar que elas se repitam. “A água vai se acumulando em caminhos alternativ­os, não previstos no projeto de implantaçã­o. Neste ano, registramo­s sete novos pontos de acúmulo de água. É difícil prever onde vão ter novos deslizamen­tos. A força da corredeira provoca instabilid­ade”, disse o técnico.

Por estar em uma região de serra, a estrada tem metade de sua extensão sobre solo irregular, formado por pedras misturadas a partes arenosas.

O clima da Serra do Mar também ajuda a acelerar a deterioraç­ão dessas rochas enormes que formam a encosta até chegar ao nível do mar. O ambiente é serpentead­o por rios e cachoeiras, além da amplitude térmica: calor de dia e frio e neblina à noite.

Por causa dessas caracterís­ticas, apesar das obras de reparo, a gestão do governador Márcio França (PSB) terá dificuldad­e em garantir a total segurança dos motoristas que trafegarem pela rodovia quando essa for reaberta.

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Gabriel Cabral - 12.abr.2018/Folhapress Trecho com queda de barreira na ligação da Grande SP com o litoral

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