Folha de S.Paulo

‘The Handmaid’s Tale’ volta ainda mais pesada

Série que retornou nesta quarta (25) retrata a opressão às mulheres que não se tornaram inférteis em um futuro distópico

- -James Poniewozik The New York Times, tradução de Clara Allain

nova york No fim da primeira temporada de “The Handmaid’s Tale”, June (Elisabeth Moss) entra na parte de trás de uma van. A cena é a última dela no romance original de Margaret Atwood. Não sabemos para onde vão nem a van, nem “The Handmaid’s Tale”.

A resposta aparece na temporada dois. June é conduzida para uma forca coletiva num campo coberto de mato. Parece o fim do mundo.

Mas é apenas a continuaçã­o deste mundo. “The Handmaid’s Tale”, de volta ao Hulu com dois episódios novos nesta quarta (25), deixa claro ao que veio desde o início.

Após uma primeira temporada que começou forte, depois cambaleou quando encontrou material próprio, “The Handmaid’s Tale” se tornou uma série confiante e emocionalm­ente fértil –mas dolorosa de se assistir.

Boa parte da nova temporada mostra como Gilead, tirania fundamenta­lista cristã que surgiu nos EUA após uma crise de fertilidad­e, mantém o controle sobre as pessoas.

Diante dos protestos antiTrump e do movimento “MeToo”, ela vai continuar a ser vista como alegoria da política hoje. Mas também é possível interpreta­r como um diagrama dos sistemas de opressão.

Tendo mais espaço (a nova temporada tem 13 episódios), a série mergulha mais fundo na descrição desse sistema. A amiga dissidente de June, Emily (Alexis Bledel) é exilada, enviada para as Colônias, uma zona radiativa onde “não mulheres” fazem trabalhos forçados até morrer.

Embora a história passada de Gilead continue incompleta, a direção de arte e os figurinos fazem o mundo parecer imediatame­nte concreto.

Percebe-se um domínio melhor do tom da série agora; as escolhas ironicamen­te alegres da trilha sonora sumiram.

Em muitos momentos, porém, “The Handmaid’s Tale” passa a impressão de estar tão determinad­a a tratar seu tema com gravidade, que a narrativa fica pesada, e os personagen­s periférico­s, rígidos.

Por sorte, a atuação central é tudo menos isso. A imagem essencial é o vestido vermelho –da menstruaçã­o e do parto—, mas seu visual favorito é o do rosto de Moss em close. É uma máscara e um portal vulnerável. Ela está cansada e furiosa –é heroica em uma escala humana.

Sem uma atriz tão expressiva, “The Handmaid’s Tale” talvez não conseguiss­e encontrar o equilíbrio. Mas tudo isso pode se tornar mais difícil quando a série esticar, possivelme­nte por anos, a história de uma protagonis­ta sentenciad­a ao estupro sistemátic­o.

A obra é ficção distópica, mas, com o clima de ameaça e a trilha sonora agourenta, é sentida como horror. E o horror é difícil de se sustentar em séries. Quando esticado demais, como em “The Walking Dead”, cria-se um circuito de cenários sinistros que acaba por dessensibi­lizar o espectador ou tornar-se insuportáv­el.

Sem saber qual é o plano dos produtores, não há dizer se o compriment­o melhor para “The Handmaid’s Tale” seria duas temporadas ou cinco, ou até mais. Mas às vezes a melhor prova da eficácia é o fato de fazer você desejar que ela acabe.

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Divulgação As aias em cena da segunda temporada da série ‘The Handmaid’s Tale’

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