Folha de S.Paulo

Boa surpresa, filme sobre autista comprova talento de Dakota Fanning

- Sérgio Alpendre

Tudo que Quero Salas e horários | 18

É interessan­te ver o progresso das talentosas irmãs e atrizes Dakota e Elle Fanning, que começaram a brilhar nas telas quando crianças.

A mais nova, Elle (nascida em 1998), parece ter finalmente chegado a um ponto de virada em sua carreira com “O Estranho que Nós Amamos” (Sofia Coppola, 2017).

Esse ponto havia chegado antes para Dakota (1994). Foi com “The Runaways: Garotas do Rock” (2010), em que interpreta a vocalista da banda Runaways. Nenhum dos filmes citados deve ficar nos anais da história. E “Tudo que Quero”, de Ben Lewin, que comprova o talento de Dakota, não atingirá patamar superior.

É, contudo, um filme agradável de se ver, muito graças a ela, aqui num papel desafiador: Wendy, moça autista de 21 anos que escreve um roteiro para mais um episódio de “Star Trek”, como parte de um concurso.

Sabemos que o problema de uma pessoa autista não é de inteligênc­ia ou aptidão, e sim de comunicabi­lidade. Mas, mesmo dizendo com todas as letras que tem um roteiro que precisa ser enviado a Hollywood, ninguém parece lhe dar ouvidos. Ou seja, é problema de atenção também, mas dos que a amam.

Até que ela resolve levar o roteiro por conta própria, saindo de San Francisco (quase 600 quilômetro­s ao norte) na companhia de seu cachorrinh­o. O filme então cresce, tornandose um road movie, espécie de primo mais modesto do “Uma História Real”, de David Lynch.

Num papel desses, há sempre o risco da comiseraçã­o e do sentimenta­lismo, algo na linha “Rain Man”, em que nem o habilidoso Barry Levinson conseguiu superar a contento algumas armadilhas impostas pela trama.

Sabiamente, preferiu-se o tom menor, uma produção pequena, com um diretor mais habituado a séries de TV e já distante de seu maior sucesso no circuito indie: “O Favor, O Relógio e o Peixe Muito Grande” (1991).

“Tudo que Quero” é também um reencontro com Toni Colette, atriz quase sempre mal aproveitad­a, em um papel digno de seu carisma. Há ainda a relação conflituos­a, mas de amor, entre Wendy e a irmã Audrey. A cena em que Audrey vê imagens das duas, ainda crianças, brincando ao piano é talvez a mais tocante, sem cair na chantagem emocional.

Lewin ainda consegue dosar os momentos em que Wendy sai dos trilhos com aqueles em que ela se mostra brilhante e, principalm­ente, entende o tamanho de seu filme. O longa é uma singela surpresa. Longe de ser imperdível, mas bem acima do insignific­ante.

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Divulgação Fanning vive fã de “Star Trek” que precisa inscrever um roteiro para a série em um concurso

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