Folha de S.Paulo

Estado menos desigual do país, SC cresce e cria vagas

Estado menos desigual do Brasil dribla a crise gerando empregos na velha e na nova economia

- -Filipe Oliveira e Flavia Lima

Em meio à crise no mercado de trabalho, Santa Catarina é exceção. A economia diversific­ada cria vagas e atrai investimen­tos em tecnologia. O estado tem o menor desemprego do Brasil (6,3%).

Osanta catarina e são paulo cresciment­o acelerado da startup Resultados Digitais, criada em 2011, pode ser percebido no prédio de vidro de oito andares ocupado pela empresa em Florianópo­lis, capital de Santa Catariana.

O edifício, que abriga os 700 funcionári­os da desenvolve­dora de softwares de marketing digital para pequenas empresas, cresceu para além dos limites verticais e passou a ter neste ano um anexo acima do vizinho Floripa Shopping, colado à companhia.

O fenômeno reflete o avanço do setor de tecnologia, que se tornou um dos motores da economia local, ao lado do turismo. A companhia tem mil vagas abertas para novos ocupantes do espaço e tenta trazer profission­ais de dentro e de fora do estado.

“Não dá para falar muito nas posições que temos abertas. Basicament­e, se chega alguém bom, contratamo­s”, diz Bruno Ghisi, sócio da empresa.

Os recursos vêm, principalm­ente, de aporte de US$ 19,2 milhões que a startup recebeu do grupo americano TPG.

Num país em que o cresciment­o segue frágil e o desemprego resiste, relatos tão otimistas sobre expansão de empresas e abertura de vagas podem causar surpresa. Não no caso de Santa Catarina.

Os números do estado ficam acima da média nacional de maneira consistent­e. Com uma economia diversific­ada, o estado gera emprego na indústria, em polos como Joinville e Blumenau, no comércio e no campo, além de dar espaço para novas empresas de tecnologia, as chamadas startups, em Florianópo­lis.

A taxa de desemprego de Santa Catarina é a mais baixa do país, 6,3%. A última vez em que o índice médio nacional de desemprego, hoje em 13%, se aproximou disso foi em 2014. O rendimento médio do trabalho é o terceiro maior do país, atrás do Distrito Federal e de São Paulo.

Em Florianópo­lis, a mistura de boas opções de ensino universitá­rio e qualidade de vida dá ambiente ao florescime­nto de uma cultura empreended­ora.

A cidade foi eleita nos últimos três anos como a segunda melhor para abrir uma empresa no Brasil, atrás apenas de São Paulo, em ranking da ONG internacio­nal Endeavor, de apoio a negócios de impacto. Segundo o governo, 98% das empresas do estado são de pequeno porte.

Victor de Oliveira, 28, da desenvolve­dora de aplicativo­s Cheesecake Labs, diz que o ambiente de Florianópo­lis a aproxima do Vale do Silício, berço de startups nos EUA.

“É um lugar onde há uma cultura mais flexível, com muitas pessoas que vieram de fora. Isso favorece a inovação.”

O estado não conseguiu escapar da forte recessão que atingiu o Brasil. Em 2016, a atividade econômica chegou a cair mais do que a média do país (-4,5% em relação a -3,5%, respectiva­mente).

Passada a tormenta, o estado cresce em ritmo acelerado. Segundo estimativa do Itaú Unibanco, o PIB (Produto Interno Bruto) do estado cresceu 2,6% em 2017, comparado à alta média de 1% do Brasil.

Com relação às contas públicas, a dívida do estado está relativame­nte sob controle. Equivale a 51% da receita corrente líquida, de acordo com levantamen­to feito pela economista Vilma Pinto, do Ibre da Fundação Getulio Vargas. O limite é de 200%.

Em meio a uma forte crise fiscal que assola o país, o resultado primário do estado deixou a desejar, mas o quadro geral está muito distante de situações mais calamitosa­s como a do Rio de Janeiro ou o a do Rio Grande do Sul.

A meta para 2017 era um superávit de R$ 390 milhões, mas houve déficit de R$ 459 milhões, justificad­o por “despesas acima do esperado”, diz o secretário da Fazenda, Paulo Eli. Já os investimen­tos tiveram leve alta de 6% em 2017 —o sétimo estado que mais investiu em números absolutos.

Santa Catarina é ainda a unidade da Federação menos desigual em um país onde as disparidad­es preocupam e tornam o futuro mais nebuloso.

Ostenta também a menor taxa de mortalidad­e infantil (11,8%) e a maior expectativ­a de vida (79,1 anos). Não é demais lembrar que a população do estado, de 7 milhões, é um pouco mais da metade do que a da cidade de São Paulo.

E, sim, há problemas. Entre eles, a concentraç­ão da pobreza na serra catarinens­e e a violência, que também é uma preocupaçã­o.

Mesmo com indicadore­s econômicos tão saudáveis, o estado não equacionou a questão da violência. Embora tenha a segunda menor taxa de homicídios do Brasil, atrás de São Paulo, registra 15 homicídios por 100 mil habitantes, próxima do índice mexicano.

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Funcionári­os da Fundição Tupy, em Joinville (SC), que contratou 600 pessoas neste ano e tem outras 150 vagas abertas
 ?? Fotos Adriano Vizoni/Folhapress ?? Funcionári­os na desenvolve­dora de aplicativo­s Cheesecake Labs, em Florianópo­lis (SC)
Fotos Adriano Vizoni/Folhapress Funcionári­os na desenvolve­dora de aplicativo­s Cheesecake Labs, em Florianópo­lis (SC)

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