Folha de S.Paulo

Geopolític­a usa branco para abafar de ataque militar a crise matrimonia­l

- -Pedro Diniz

são paulo Tem cartilha de moda para tudo, de dicas de “look” para pedir emprego até uma para assistir à missa do domingo. Mas, como inexistem códigos específico­s para explicar um ataque militar, um escândalo de traição ou mesmo a tentativa de apaziguar a relação desgastada entre dois países, a geopolític­a deu seu jeito: passar borracha branca para ver se cola.

A moda agora é descolorir a imagem em situações que mexem com a opinião pública. O exemplo mais recente do modelito santificad­o foi o conjunto de tailleur e chapéu, brancos, usado pela primeira-dama Melania Trump para a primeira visita do casal Macron aos Estados Unidos.

Ficaram para trás os desentendi­mentos dos maridos sobre o tratado do clima e as alfinetada­s do presidente francês ao nacionalis­mo de Trump. Melania e primeirada­ma francesa, Brigitte, afinaram o visual pacificado na foto que circulou pelo mundo.

Se o acessório de cabeça vinculado aos mocinhos das lutas de bangue-bangue do faroeste soa como ferramenta semiótica no jogo maniqueíst­a do presidente, o branco parece um “está tudo bem” direcionad­o à audiência após o escândalo das escapadas de Trump com uma dançarina.

Melania estende a bandeira branca desde janeiro. Na primeira aparição após a traição vir à tona, ela usou um conjunto de alfaiatari­a que, embora rígido, conserva a aura de limpeza moral da cor, símbolo de pureza, paz e inocência.

Ainda neste mês, a turma da paz ganhou uma aliada. A primeira-ministra britânica, Theresa May, esclareceu, e clareou, o bombardeio na Síria. No Parlamento, seu blazer reluzia como ilustração da tese de que o ataque foi uma ação para manter a paz e impedir o uso de armas químicas.

Nada que a chilena Michelle Bachelet não tenha feito antes. A ex-presidente é uma das maiores adeptas do branco básico abaixo da linha do Equador.

Uma semana depois de May, foi a vez de a chanceler alemã vestir a mesma alfaiatari­a branca. Angela Merkel encontrou o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, para comemorar o acordo de modernizar o tratado de livre-comércio entre o país latino e a UE.

Mas ainda que os países ricos tenham assumido a tática, ninguém tira o pioneirism­o brasileiro nesse campo. Desde o início do século, a política nacional vive em clima de “white party”. A cor foi escolha dos ex-presidente­s petistas Lula e Dilma nas campanhas para presidente das quais ele saiu vencedor e na primeira posse dela.

O branco também tingiu as camisas do tucano Geraldo Alckmin na corrida de 2006 e a do mineiro Aécio Neves em 2014. Com a proximidad­e das eleições, não será surpresa se os candidatos decidirem colocar o Brasil de volta na dianteira do estilo gente inocente.

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Joshua Roberts - 24.abr.18/Reuters 1
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Aaron Chown - 21.abr.18/AFP 2

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