Folha de S.Paulo

Rebelde, foi a primeira mulher juíza de Alagoas

NELMA TORRES PADILHA (1942-2018)

- -Flávia Faria coluna.obituario@grupofolha.com.br

são paulo Conta-se na família que, logo nos primeiros meses de vida de Nelma Torres Padilha, mandaram chamar o médico de Viçosa (AL). É que não havia jeito de fazer a

menina parar de chorar.

Se a mãe lhe triscava o dedo, abria o berreiro. Dona Maria Orismida achou que a filha tinha os ossos quebrados. “Que nada!”, disse o doutor. “Isso é malcriação, gênio forte.”

E assim foi Nelma durante os 75 anos que se seguiram: geniosa, independen­te e aguerrida. Fazia o que lhe dava na cabeça.

Pois cismou que seria juíza. Mas como, se, naquela época, lá nos idos de 1970, magistratu­ra era coisa de homem?

Ouviu do governador de então, Divaldo Suruagy, que, se fosse aprovada no concurso, a nomeação viria.

Dito e feito. Foi nomeada a primeira magistrada do estado de Alagoas em 1976.

Pelos municípios que passou, arregiment­ou elogios, afilhados e uns poucos e perigosos desafetos. Chegou a sofrer ameaças por casos que julgou e precisou andar com seguranças por um tempo. Mal mencionou o ocorrido à família. Achava que não valia a preocupaçã­o.

Em 2009, já morando na capital Maceió, foi nomeada desembarga­dora. Também ocupou o cargo de vicepresid­ente do Tribunal de Justiça do estado e o de presidente da Associação de Magistrado­s de Alagoas.

E, se a insistênci­a para que lhe chamassem de doutora, nunca de dona, parecia a alguns arrogância, para sua sobrinha, Karla, era só um traço da sua personalid­ade. A dedicação à vida jurídica foi tanta que mais fazia sentido ser reconhecid­a como juíza do que como pessoa.

Morreu em 21 de abril, em decorrênci­a de um câncer. Solteira, deixou três irmãs, seis sobrinhos e dez sobrinhos-netos.

Procure o Serviço Funerário Municipal de São Paulo:

tel. (11) 3396-3800 e central 156; prefeitura.sp.gov.br/servicofun­erario. Anúncio pago na Folha: tel. (11) 3224-4000. Seg. a sex.: 8h às 20h. Sáb. e dom.: 10h às 17h. Aviso gratuito na seção: folha.com/mortes. Até as 15h (até as 19h de sexta para publicação aos domingos). Envie um número de telefone para checagem das informaçõe­s.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil