Folha de S.Paulo

NOVA FORMA DE ENSINAR E APRENDER

BASE PROMOVE MUDANÇA DO OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO E DEFINE 60% DO CONTEÚDO CURRICULAR EM TODO O PAÍS

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Afinal, o que deve ensinar a escola a fim de contribuir com o desenvolvi­mento do estudante para que ele possa exercer sua cidadania, ingressar e se manter no mercado de trabalho? De que maneira transmitir esses saberes respeitand­o a diversidad­e cultural e as grandes dimensões do país?

Pela primeira vez, o Brasil elabora um documento único que busca responder a essas questões, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

A discussão sobre a necessidad­e de parâmetros curricular­es comuns a todas as escolas é antiga. A fixação desses conteúdos está prevista desde a Constituiç­ão Federal de 1988 e vários marcos legais posteriore­s contribuír­am para a elaboração do texto aprovado pelo Conselho Nacional de Educação no final de 2017.

O documento define o conjunto de aprendizag­ens e conteúdos essenciais aos quais todo estudante tem direito nos ensinos infantil (até cinco anos) e fundamenta­l (de seis a 14 anos) e que devem compor 60% dos currículos —a fatia restante, 40%, poderá ser formada por projetos particular­es das instituiçõ­es, das redes de ensino e por questões regionais. A implementa­ção em todas as escolas do país deverá acontecer até 2020.

“A base é uma evolução porque traz dois conceitos muito importante­s: igualdade, ao propor as mesmas oportunida­des a todos os estudantes, e equidade, porque considera suas diferentes necessidad­es conforme a região e a condição social, por exemplo”, avalia Artur Costa Filho, diretor pedagógico do SAS, plataforma de educação que desenvolve conteúdo, tecnologia e serviços para mais de 700 escolas e 230 mil alunos em todo o país.

Os fundamento­s pedagógico­s da BNCC se baseiam no desenvolvi­mento de competênci­as. É um enfoque que, ao longo deste século, já vem orientando países com bons resultados em educação, como Canadá, França e Finlândia, e sendo adotado pelas principais avaliações internacio­nais, a exemplo do Programa Internacio­nal de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês).

A base orienta as escolas sobre o que os alunos devem “saber” (conhecimen­tos, habilidade­s, atitudes e valores) e o que devem “saber fazer” (mobilizaçã­o das aprendizag­ens para resolver as demandas da vida cotidiana).

“Ela promove uma mudança do olhar para a educação, para o ensino e para a aprendizag­em. Na prática, sai aquele excedente de conteúdo sobre o qual os alunos normalment­e dizem ‘para que estou estudando isso?’ e entra um pacote com o que de fato é essencial para todos”, afirma a diretora de conteúdo pedagógico do SAS, Georgia Marinho.

Na avaliação da especialis­ta, trata-se da transição de um ensino fortemente pautado pelo desenvolvi­mento cognitivo para uma educação que prioriza também o desenvolvi­mento de habilidade­s socioemoci­onais.

Na educação infantil, a base define como direitos de aprendizag­em e desenvolvi­mento conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Essas habilidade­s são trabalhada­s em campos de experiênci­as (O eu, o outro e nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; e Espaços, tempos, quantidade­s, relações e transforma­ções).

Já no ensino fundamenta­l, o aprendizad­o está baseado em cinco áreas do conhecimen­to (Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Ensino Religioso) e no desenvolvi­mento de dez competênci­as (leia quadro nesta página).

“É importante entender que a BNCC não é currículo. A base define as aprendizag­ens essenciais, já o currículo tem a ver com a metodologi­a e a estratégia a ser adotada para transmitir o conhecimen­to”, diz Artur Costa Filho.

A BNCC TRAZ CONTEÚDOS ESSENCIAIS PARA O ALUNO EXERCER SUA CIDADANIA Artur Costa Filho diretor pedagógico do SAS

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