Folha de S.Paulo

Eliminação prematura

- Bruno Boghossian

brasília A matemática eleitoral não é boa para a turma do centro —ou campo azul, ou establishm­ent ou qualquer denominaçã­o para o grupo que exerceu poder no país nos últimos dois anos. Estamos no fim de abril e, aparenteme­nte, há cinco candidatos com mais chances de chegar ao segundo turno do que Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB) e Rodrigo Maia (DEM).

O desgaste da classe política e a impopulari­dade de Michel Temer abastecem a corrida presidenci­al com um combustíve­l de mudança. É cedo para fazer diagnóstic­os definitivo­s, mas as pesquisas sugerem que deverá ser estreito o caminho para candidatur­as de continuida­de.

Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) despontam sob o signo da ruptura com a política tradiciona­l. Ciro Gomes (PDT) e o nome do PT atacarão pela esquerda o atual governo. Por fim, Joaquim Barbosa (PSB) bagunça o tabuleiro ao atrair eleitores insatisfei­tos de ponta a ponta.

Em qualquer combinação, esses cinco personagen­s podem provocar um segundo turno sem representa­ntes do campo político que, sob as cores do PSDB, venceu ou esteve na final do campeonato em todas as disputas dos últimos 24 anos.

O núcleo centrista acreditava que seria o desaguadou­ro do eleitorado com repulsa a radicalism­os e ao PT, mas faltam popularida­de e consenso político para concretiza­r a previsão.

Os partidos do consórcio que derrubou Dilma Rousseff insistem em seguir caminhos diversos porque já encaram uma disputa velada pelos espaços do poder a partir de 2019.

O PSDB não aceita o apoio de Temer, pois o peso do presidente aproximari­a os tucanos da derrota e os obrigaria a amargar quatro anos na oposição. Já o MDB suspeita que não terá direito a indicar nem sequer o porteiro do Palácio do Planalto se o indócil Alckmin vencer a eleição.

Dividido, esse grupo corre risco de eliminação prematura na disputa pela Presidênci­a. Nos próximos meses, seus integrante­s precisarão decidir se topam uma aliança indesejáve­l para tentar evitar o fiasco eleitoral.

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