Folha de S.Paulo

Tempo perdido

Incapacida­de do governo de vencer a paralisia no Congresso com a proximidad­e das eleições deixa de lado agenda prioritári­a e cria riscos para sucessor

-

Com os políticos contando os meses que faltam para o início da campanha eleitoral, em agosto, o presidente Michel Temer (MDB) vê o espaço para aprovar projetos de seu interesse no Congresso se estreitar um pouco mais a cada dia.

Até partidos que integram a bancada governista se juntaram aos opositores do cadastro positivo de devedores, uma das iniciativa­s arroladas no início do ano entre as prioridade­s do mandatário.

A proposta que abre caminho para a privatizaç­ão da Eletrobras também empacou. Líderes que controlam postos chave na estrutura da estatal resistem à ideia e impedem o Planalto de reunir os votos necessário­s para aprová-la.

O projeto que reonera a folha de pagamentos de empresas de 56 setores, outro que foi colocado no topo da agenda do governo, chegou a entrar em regime de urgência na Câmara dos Deputados, mas foi retirado da pauta semanas depois.

É compreensí­vel a relutância dos parlamenta­res. Eles estão empenhados em garantir a própria reeleição. Com a proximidad­e do pleito de outubro, os apelos de um presidente impopular como Temer soam cada vez menos sedutores.

Em 2016, o presidente exibiu grande capacidade de articulaçã­o nos primeiros meses de sua gestão. Superado o trauma do impeachmen­t, medidas essenciais como o teto dos gastos públicos foram aprovadas em pouco tempo.

Depois da delação da JBS e de duas denúncias criminais, a prioridade de Temer passou a ser a defesa do próprio pescoço. Ainda assim, propositur­as de grande alcance como o redesenho da legislação trabalhist­a se tornaram leis.

Mas os sinais de exaustão ficaram evidentes em fevereiro, quando o governo abandonou os esforços para viabilizar a reforma da Previdênci­a, fundamenta­l para assegurar o equilíbrio das contas do país.

Nos últimos dois meses, a Câmara passou 22 dias sem aprovar um único projeto de lei, de acordo com levantamen­to feito por esta Folha. Nesse período, os deputados estavam mais ocupados com as negociaçõe­s da janela aberta para trocas de partido antes das eleições.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil