Nosso sindicalismo é uma vergonha
são paulo “Vocês falaram mal do acampamento, tu vai lá para onde tá o carro da polícia.”
Quem diz isso é o presidente do Sindicato dos Jornalistas do RS, Milton Simas. Vestido com camiseta do MST, ele está no acampamento Marisa Letícia, em Curitiba, onde pessoas que defendem o ex-presidente Lula foram alvo de atentado a tiros no sábado passado (28).
Seu interlocutor é o repórter de televisão Marc Sousa. “Vocês são do SBT”, diz Simas. “Não, da Record”, responde o repórter. O erro de informação não lhe importou: “Acho que a imprensa tá toda junto no golpe”. O que o sindicalista queria mesmo era advertir: “Sou jornalista, teu colega, tô te avisando que é para preservar tua integridade. Pro teu bem”.
O vídeo é constrangedor. Como tudo é possível neste mundo, a coisa ficou ainda pior quando Simas resolveu se explicar, noutro vídeo.
Dizendo defender “a liberdade de expressão e o livre exercício da profissão” —exatamente o contrário do que praticou—, ele afirmou que a CUT ajudou a bancar a viagem e recorreu a argumentos tão ou mais absurdos para explicar sua atitude.
“Fizemos cursos [sobre] como nós profissionais jornalistas devemos trabalhar em pautas de risco”, disse ao justificar seu “aviso” em Curitiba. Ele acha que estava em pauta? Ou que é chefe do repórter?
“Ressalto aqui que não tinha nenhum representante do sindicato dos jornalistas daquele estado [PR]”, afirmou. E deveria? Por qual motivo?
Simas é só um sintoma. Vale lembrar a nota do Sindicato dos Jornalistas de SP na prisão de Lula, culpando as empresas pelas agressões a seus profissionais, para ver como o problema está enraizado.
As fragilidades do sindicalismo obviamente atravessam profissões. Ficam por demais evidentes quando vistas dentro da sua. Gente que usa o dinheiro que deveria defender uma categoria para fazer política. O sindicalismo adora culpar todo mundo por seu enfraquecimento —mas ele é que enfraquece a si próprio.
Isso significa que juízes, promotores, governadores, prefeitos e até os ministros de Michel Temer terão direito a foro especial, mesmo que tenham cometido crimes antes de assumirem seus cargos e mandatos. Seria a “suruba selecionada” que o senador Romero Jucá (MDB-RR) citou ao cobrar o fim do privilégio para outras autoridades.
Sem o costume de legislar, o STF deixa buracos ao improvisar uma nova emenda constitucional. Em que tribunal será julgado o senador que cometeu crime no cargo de governador? E o governador que praticou um delito quando era deputado?
Até agora, a perspectiva é de uma “grande bagunça”, como resumiu Gilmar Mendes. Julgadores diferentes poderão interpretar as regras de maneiras diversas, e o STF será chamado para dirimir novas dúvidas.
Para reformar o sistema do foro especial, é necessário mudar a Constituição —e só o Congresso poderá fazer isso. Improvisar remendos para “dar uma resposta à sociedade” não resolverá o problema.