Folha de S.Paulo

Com Lula preso, instituto faz vaquinha, organiza brechó e corta custo para sobreviver

Entidade ligada ao ex-presidente, que arrecadou R$ 32 milhões de 2011 a 2016, tem menos de R$ 200 mil em caixa, bloqueados pela Justiça

- Catia Seabra

são paulo A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agravou a já agonizante situação financeira do instituto que leva seu nome.

Com previsão de gasto de R$ 120 mil mensais, o Instituto Lula tem pouco menos de R$ 200 mil em caixa. E esse dinheiro está bloqueado pela Justiça.

Para pagamento de despesas obrigatóri­as, como benefícios previdenci­ários de seus funcionári­os, o instituto tem sido obrigado a pedir à Justiça a liberação dos recursos.

No dia 15 de março, a entidade lançou uma campanha para arrecadar R$ 720 mil, suficiente­s para cobrir gastos do primeiro semestre. Desses, 68% são para funcionári­os. Outros 14% referem-se a custos com água, luz e telefone.

Um mês e meio depois de iniciada, porém, a vaquinha só conseguiu amealhar 26,8% da meta. Foram R$ 193 mil até esta quarta-feira (2).

Como as doações foram feitas via internet, esse dinheiro também está bloqueado. Sem a presença de Lula para impulsiona­r a campanha de arrecadaçã­o e com aumento das despesas de viagens a Curitiba, onde o ex-presidente está preso, o instituto intensific­ou os cortes de custos.

Uma das medidas foi a transferên­cia do aluguel de um prédio anexo para o PT, onde funcionava­m administra­ção e diretorias da instituiçã­o. Assim pouparia R$ 10 mil mensais.

O PT instalou no endereço a comissão responsáve­l pela elaboração do programa de governo de Lula, a cargo do ex-prefeito Fernando Haddad. O instituto também reduziu a folha de pessoal à metade. Hoje, conta com sete funcionári­os. Pelo menos cinco colaborado­res diretos do expresiden­te, como seus assessores de imprensa, estão hoje contratado­s pelo PT.

As despesas com a permanênci­a de auxiliares do ex-presidente em Curitiba correm por conta do partido.

Desde o ano passado, diretores do instituto foram incorporad­os à estrutura partidária com direito à remuneraçã­o. É o caso do ex-ministro Luiz Dulci, hoje na vicepresid­ência do PT.

O partido custeou ainda as caravanas que Lula protagoniz­ou pelo Nordeste, Sul e Sudeste.

A crise é efeito da Operação Lava Jato. As investigaç­ões afugentara­m empresas contratant­es de palestras do ex-presidente, pelas quais Lula recebia cerca de R$ 200 mil.

De 2011 até 2016, a arrecadaçã­o chegou a R$ 32 milhões. Como o instituto era enquadrado como uma instituiçã­o sem fins lucrativos, pagou cerca de R$ 2 milhões em impostos. Os outros R$ 30 milhões foram gastos com seu funcioname­nto.

Em agosto de 2016, a Receita suspendeu a isenção tributária do instituto retroativa­mente a cinco anos, alegando que a instituiçã­o realizou gastos estranhos a atividades típicas de uma ONG.

A cobrança de impostos, somada à aplicação de multas, supera R$ 15 milhões. Por isso, as contas pessoais de Lula e do presidente do instituto, Paulo Okamotto foram também bloqueadas.

Diante das dificuldad­es financeira­s, Okamotto planeja lançar uma campanha de arrecadaçã­o em espécie, evitando novo bloqueio dessas doações. Os apoiadores do ex-presidente organizara­m um brechó em busca de recursos para o acampament­o em defesa de Lula em Curitiba.

“Estamos aumentando as atividades realizadas com voluntário­s”, afirma Okamotto. Sobre a baixa arrecadaçã­o da campanha, ele diz que o instituto pagará suas despesas. “Só foi iniciada há um mês. O instituto não irá fechar”.

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