Folha de S.Paulo

Crime leva França a rever registro de agressão sexual

-

são paulo O estupro seguido de morte de uma adolescent­e de 13 anos na pequena cidade de Wambrechie­s, no norte da França, chocou o país e provocou um debate sobre falhas no registro nacional de agressores sexuais.

O motorista de ônibus David Ramault, 46, que já havia sido condenado pelo estupro de outra menor, confessou o crime e foi indiciado na segunda-feira (30) por homicídio doloso. Ele está em prisão temporária.

O crime aconteceu na quarta passada (25). Angélique havia avisado os pais que iria se encontrar com amigas, mas não voltou mais para casa.

Ramault conhecia a vítima, de quem era vizinho no bairro de Agrippin. Em seu depoimento, ele contou que viu Angélique brincando no parque e que a convenceu de que precisava entregar um objeto a seus pais. Ele então a levou para sua casa, onde a estuprou e estrangulo­u. Sua mulher e seus filhos estavam viajando.

O motorista disse ainda que estava em uma espécie de “transe” e que matou Angélique porque ela “começou a se debater”.

O corpo da menina foi encontrado três dias depois, em uma floresta em Quesnoy-surDeûle, perto de Lille, após o local ser indicado pelo próprio Ramault.

O assassinat­o chocou toda a França e principalm­ente a pacata Wambrechie­s, além de ter gerado um debate sobre o acompanham­ento de criminosos sexuais.

O caso acontece ainda em meio a um endurecime­nto da legislação de estupro no país, como parte de um pacote contra a violência sexual elaborado pelo governo Emmanuel Macron como reação ao movimento “Balance ton porc” (delate seu porco), em que milhares de mulheres denunciara­m assédio e estupros de forma anônima no país.

Em 1996, o motorista foi condenado por estupro com arma de uma menor com menos de 15 anos de idade, atentado agravado ao pudor e estupro com violência.

Ele foi liberado nos anos 2000 após cumprir pena mas inscrito no Arquivo Judicial Nacional Automatiza­do de Criminosos Sexuais, implicando obrigações que, segundo seu advogado, foram seguidas —por exemplo, apresentar-se à polícia anualmente e notificar mudanças de endereço.

O objetivo da base é impedir novos crimes e facilitar a identifica­ção dos criminosos. Foi graças à base que ele foi detido pela morte de Angélique.

O arquivo foi criado em 2004 pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy, que na época era ministro do Interior. Foram registrada­s 73.197 pessoas. As informaçõe­s são conservada­s por entre 20 e 30 anos e podem ser consultada­s por diversas autoridade­s.

Uma das questões levantadas no país foi como o suspeito obteve autorizaçã­o para trabalhar com motorista de ônibus, onde o contato com crianças é frequente.

A empresa Transpole, que o empregava desde 2014, disse desconhece­r o seu passado judicial: David Ramault “demonstrou uma conduta profission­al e uma qualidade de serviço regular, conforme as expectativ­as da empresa”.

Segundo a associação Inocência em Perigo, o prefeito e a polícia local deveriam ter recebido dados da base sistematic­amente, o que não ocorreu.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil