Folha de S.Paulo

Abbas é criticado após declaração antissemit­a

Presidente palestino liga prática da usura a massacres de judeus e ao Holocausto; Israel o acusa de ignorância e negacionis­mo

- Reuters e Associated Press

são paulo Declaraçõe­s do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, sobre as causas do antissemit­ismo na Europa foram criticadas nesta quarta-feira (2) por ONU, União Europeia, EUA e Israel, que as considerar­am antissemit­as.

Em um discurso diante do Conselho Nacional Palestino na segunda-feira (30), Abbas disse que foi a prática da usura (empréstimo de dinheiro com juros) realizada por judeus o que causou animosidad­e contra eles na Europa.

Abbas também retratou a criação de Israel como projeto colonial europeu, dizendo que “a história diz que não há base para uma pátria judaica”.

Judeus europeus sofreram massacres “a cada 10 ou 15 anos em algum país desde o século 11 até o Holocausto”, disse Abbas.

Citando supostos livros de autores judeus, ele acrescento­u: “Eles dizem que o ódio contra judeus não era por causa de sua religião, mas por causa de sua função social. A questão que se espalhou contra os judeus pela Europa (...) foi por causa da usura e dos bancos”.

O coordenado­r especial da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, Nickolai Mladenov, disse que Abbas proferiu “alguns dos insultos antissemit­as mais condenávei­s”.

“Líderes têm obrigação de confrontar o antissemit­ismo em todos os lugares e sempre, e não perpetuar as teorias da conspiraçã­o que o fomentam”, disse Mladenov em nota.

“Negar a conexão histórica e religiosa do povo judeu à terra e a seus lugares sagrados em Jerusalém contrasta com a realidade.”

“Abu Mazen alcançou o fundo do poço ao atribuir a causa de massacres do povo judeu a seu ‘comportame­nto social’”, afirmou o embaixador de Israel nos EUA, David Friedman, referindo-se a Abbas por seu nome de guerra. “Para todos aqueles que pensam que Israel é a razão pela qual não temos paz, pensem novamente.”

O enviado especial do presidente Donald Trump para negociaçõe­s internacio­nais, Jason Greenblatt, também reagiu, chamando as declaraçõe­s de “muito angustiant­es e terrivelme­nte desanimado­ras”.

A retórica reflete a atual escalada de tensões entre palestinos e israelense­s e entre palestinos e o governo Trump. As relações com os EUA pioraram desde que Trump reconheceu Jerusalém como a capital de Israel no ano passado.

Em nota, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, disse que a declaração de Abbas foi “o ápice da ignorância” e que o líder palestino “estava novamente recitando os piores slogans antissemit­as”.

“Uma vez negador do Holocausto, sempre negador do Holocausto”, escreveu Netanyahu em uma rede social. “Peço que a comunidade internacio­nal condene o grave antissemit­ismo de Abu Mazen, que deveria há muito tempo ter desapareci­do deste mundo.”

A União Europeia disse em comunicado que o discurso “continha declaraçõe­s inaceitáve­is sobre as origens do Holocausto e a legitimida­de de Israel”.

O comunicado afirma ainda que “tal retórica só vai valer nas mãos daqueles que não querem uma solução de dois Estados, algo que o presidente Abbas repetidame­nte advogou”. “O antissemit­ismo é uma ameaça não apenas para os judeus, mas é uma ameaça fundamenta­l para as nossas sociedades abertas e liberais”, acrescenta.

Organizaçõ­es judaicas se somaram às críticas. “O discurso de Abbas em Ramallah foram as palavras clássicas de um antissemit­a”, disseram Marvin Hier e Abraham Cooper, do Centro Simon Wiesenthal, nos EUA.

O presidente da Conib (Confederaç­ão Israelita do Brasil), Fernando Lottenberg, condenou Abbas. “A recente afirmação do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, de que os próprios judeus seriam os responsáve­is pelo Holocausto, reflete mais uma vez sua insistênci­a em um posicionam­ento abertament­e antissemit­a”, diz.

“No final de sua longa carreira, Abbas retoma teses anteriorme­nte defendidas e demonstra seu fracasso em combater posições insustentá­veis, de incitação ao ódio e de racismo dentro da Autoridade Palestina.”

O governo Abbas não respondeu. O negociador-chefe palestino, Saeb Erekat, disse que as palavras do presidente foram distorcida­s e que ele havia citado a opinião de historiado­res.

“O presidente não negou os massacres aos quais os judeus foram submetidos, incluindo o Holocausto”, disse Erekat. “Ele ressaltou frequentem­ente seu respeito pela religião judaica e que nosso problema é com quem ocupa nossa terra.”

A questão que se espalhou contra os judeus pela Europa foi por causa da usura e dos bancos

 ??  ??
 ?? Philippe Huguen/AFP ?? Homenagem a Angélique em Wambrechie­s
Philippe Huguen/AFP Homenagem a Angélique em Wambrechie­s

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil