Folha de S.Paulo

Trabalhado­r vai pagar por calote da Venezuela

Congresso aprova remanejame­nto de R$ 1,16 bi do seguro-desemprego para cobrir perda do BNDES com obras no exterior

- -Bernardo Caram

brasília O Congresso aprovou nesta quarta(2) um remanejame­nto de R$ 1,16 bilhão no Orçamento federal para cobrir calotes dados por Moçambique e Venezuela em obras e serviços financiado­s pelo BNDES e pelo Credit Suisse.

Os recursos serão retirados do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhado­r), no programa seguro-desemprego. O Orçamento para o FAT neste ano é de R$ 45 bilhões.

Sob Lula e Dilma Rousseff, empréstimo­s do BNDES permitiram uma expansão da presença na África e na América Latina de empreiteir­as brasileira­s —companhias que acabaram envolvidas nas investigaç­ões da Lava Jato.

Alguns dos contratos deixaram de ser pagos pelos países contratant­es, e a conta recaiu sobre o contribuin­te brasileiro, via governo federal. Isso porque os financiame­ntos têm seguro do FGE (Fundo de Garantia à Exportação). Em caso de calote, o pagamento fica a cargo do governo.

Segundo o Ministério da Fazenda, que controla o FGE, Moçambique tem uma parcela de US$ 7,3 milhões (R$ 26 milhões) em atraso que terá de ser honrada pelo Brasil.

O débito não pago pela Venezuela até o momento é de aproximada­mente US$ 275 milhões (R$ 970 milhões). Esse pagamento precisa ser feito pelo governo brasileiro até terça (8). Caso contrário, o Brasil se tornará inadimplen­te.

Pressionad­o pelo calendário apertado, o governo teve de aceitar a marcação de uma sessão do Congresso para votar a proposta em uma semana de feriado, que normalment­e tem baixa presença de parlamenta­res em Brasília.

Ainda assim, após apelos do Planalto, o número mínimo de deputados e senadores exigido para a votação foi atingido, e o projeto, aprovado.

Na sessão, parlamenta­res aliados ao Planalto disseram que a política do PT foi a responsáve­l pelo prejuízo. O líder do PSDB, Nilson Leitão (MT), afirmou que o Congresso não foi consultado quando as gestões anteriores autorizara­m os financiame­ntos.

“O dinheiro público brasileiro vai ter que pagar essa conta da obra na Venezuela ou em Moçambique. Olhem o absurdo a que nós chegamos.”

O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), disse que o governo foi pouco transparen­te e apresentou um valor para o remanejame­nto sem detalhar as dívidas, os contratos e os prazos de vencimento. A oposição tentou obstruir a votação, mas não teve sucesso.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil