Bombeiros cavam, usam cães e buscam mãe e filhos gêmeos
Rapaz que despencou momentos antes do resgate é outro desaparecido em incêndio
são paulo Há dois cenários diferentes em frente e atrás da igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no centro de São Paulo, desde a madrugada do dia 1º, quando um edifício desmoronou após ser tomado por um incêndio.
Em frente, dezenas de exmoradores do edifício Wilton Paes de Almeida acampam após se recusar a ir a albergues, e movimentos sociais organizam pilhas de doações que recebem da população como ajuda aos sem-teto.
Atrás da igreja, bombeiros usam tecnologia, cães farejadores e trabalho braçal para tentar achar as quatro pessoas que estariam sob os escombros —até a noite desta quarta-feira (2), nenhum corpo havia sido encontrado.
Os quatro são Ricardo (conhecido como Tatuagem pelos desenhos que carregava no corpo), Selma Almeida da Silva, 38, e dois filhos gêmeos, Wendel e Werner, de 9 anos.
Ricardo desapareceu no desabamento do prédio durante tentativa de resgate. A corda que serviria para içá-lo foi encontrada sob os escombros.
Já Selma e os meninos foram incluídos na lista de desaparecidos depois que o vendedor Antonio Ribeiro Francisco, 42, registrou o desapa-
Bombeiros usam laser, água e cães nas operações de busca Operações se concentram nesta área, onde foi achada a corda usada para resgatar o homem desaparecido e onde cães indicaram haver vítima
Cachorros se revezam em áreas já sem calor. Se eles demonstram interesse em um local, bombeiros fazem a busca; se houver perigo de desabamento, um segurança apita e o adestrador sai recimento de sua ex-mulher e dos dois filhos dela —que viviam no 8º andar, diz ele.
Os irmãos estudam na Escola Estadual Marechal Deodoro, no Bom Retiro, mas não foram à escola nesta quarta. Professores disseram que os meninos eram assíduos e sempre chegavam antes à sala de aula. Por isso todos estranharam a ausência deles. Porém ainda esperam por notícias.
Antonio costumava falar com Selma todos os dias por telefone ou por mensagem.
O último telefonema foi na segunda-feira, por volta das 21h, horas antes do incêndio. Depois disso, não conseguiu mais falar com ela. “Quando acordei e ouvi a notícia pelo rádio, liguei pra ela. Mas só dá caixa postal ou fica mudo. Tenho certeza que a Selma estava no prédio porque ela disse que ia dormir”, afirmou.
O vendedor disse ainda que falou com familiares de Selma na Bahia e com colegas que trabalhavam com ela na coleta de material reciclado. Segundo ele, ninguém teve notícias dela desde o dia do desabamento. “Infelizmente acho que ela está entre as vítimas.”
Os bombeiros trabalhavam nas buscas dessas quatro pessoas, mas a quantidade de vítimas pode ser maior —outras já atuaram na ocorrência desde o início do incêndio*
Igreja Evangélica Luterana de SP pessoas buscavam informações de colegas ou parentes.
Segundo os bombeiros, 49 pessoas que viviam ali, segundo cadastro antigo do prédio, tinham paradeiro incerto.
Mas isso era baseado em “informações descasadas”, segundo a gestão Bruno Covas (PSDB). Com a rotatividade alta no local, muitos poderiam nem dormir mais lá.
No local da tragédia, um detector de vibrações a laser fica 24 horas apontado para um prédio de 12 andares em frente ao que desabou. É um dos Prédios que também foram atingidos pontos mais sensíveis do trabalho dos bombeiros, já que o prédio é estreito e chegou a ter também focos de incêndio.
As estruturas da igreja e do prédio vizinhos ao edifício que desabou também correm algum risco, mas estão estáveis, segundo os bombeiros.
Nesta quarta (2), uma escavadeira retirava os escombros espalhados pela avenida Rio Branco. Enquanto isso, bombeiros lançavam água sobre o prédio, levantando uma ininterrupta fumaça branca.
A água era retirada de hidrantes espalhados pelo centro. Em um dos mais potentes, na alameda Barão de Limeira, funcionários da Sabesp gastavam cerca de 20 minutos para encher um caminhão-tanque com 6.000 litros d’água.
Moradores de prédios ao lado também foram afetados. A aposentada Edna Nobre, 57, viu o prédio desabar da janela de casa, de madrugada. Os vidros do seu apartamento ficaram pelando, e ela precisou colocar um ventilador voltado para a janela para tentar amenizar o calor. A casa foi invadida por fumaça desde o início do incêndio. Os bombeiros tentam acessar os dois subsolos a partir da parte subterrânea do prédio ao lado, para ver se há vítimas