Folha de S.Paulo

Um fenômeno Real

Supremacia merengue não é de hoje e põe em debate se é melhor comprar ou formar

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que perdi” DSTQQSS Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho, Tostão | Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho | Tostão | Juca Kfouri | Mariliz Pereira Jorge

O Real Madrid é um fenômeno único na história do futebol.

Jogue bem ou mal, quase sempre bem, está invariavel­mente no topo. Mesmo quando sem brilho, como na atual temporada, em que foi facilmente deixado para trás pelo Barcelona no Campeonato Espanhol.

No entanto será a camisa merengue que desfilará em Kiev, no próximo dia 26, na final da Liga dos Campeões. A duras penas, é verdade, tanto que nos mata-matas, em casa, só venceu o PSG, derrotado pela Juventus nas quartas de final e com sofrido empate contra o Bayern de Munique nas semi.

Mesmo na fase de grupos apenas empatou com o Tottenham no Santiago Bernabeu e perdeu de 3 a 1 em Londres, razão pela qual ficou em perigoso segundo lugar. Perigoso para o PSG..., Neymar que o diga.

O time madridista é assim. Raramente revela um jogador porque em vez de fazer em casa prefere buscá-lo onde estiver.

Daí seus maiores ídolos, com as exceções de praxe, não serem espanhóis: o argentino Alfredo Di Stefáno, o maior de todos; o português Cristiano Ronaldo; o húngaro Ferenk Pukás; os franceses Zinedine Zidane e Raymond Kopa; o mexicano Hugo Sánchez; os brasileiro­s Ronaldo, Roberto Carlos e Marcelo; o inglês David Beckham.

Há espanhóis também, como o fabuloso ponta-esquerda Francisco Gento, o atacante Raúl, o goleiro Iker Casillas, o zagueiraço Sergio Ramos, o artilheiro Emilio Butragueño, mas, pasme, de todos, apenas Casillas foi feito em casa.

O maior campeão da história do futebol, 12 vezes campeão europeu, seis vezes campeão mundial, eleito pela Fifa, porque não tinha mesmo outro jeito, como o melhor clube do século 20, prefere buscar seus talentos no quintal alheio.

Dentro da Espanha, onde acumula 33 títulos nacionais, oito a mais que o Barcelona, ou na China se necessário for.

Sua legião estrangeir­a que começa com um goleiro costa-riquenho, Keylor Navas, e pode terminar com o galês Gareth Bale, disputará, na Ucrânia, sua terceira final europeia consecutiv­a, a quarta em cinco anos, porque até quando o CR7 não vai bem o goleiro adversário faz pior, como o do Bayern, Sven Ulreich, protagonis­ta de uma das maiores lambanças já vistas na Liga dos Campeões.

Importante registrar que entre o alemão de 1,92 m e o costa-riquenho de 1,85 m, o centroamer­icano defendeu oito bolas, quatro em grandes defesas.

A questão a se discutir num país como o Brasil é sobre a melhor política, se vale mais investir na base ou trazer jogadores revelados em outras plagas.

Porque se é claro que o Real Madrid tem bons olheiros pelo mundo afora, mais claro ainda é que além de olhos o clube tem moedas, muitas moedas, pois dinheiro não falta, ao contrário da situação brasileira.

Entre os quatro grandes paulistas é possível dizer que o Palmeiras segue mais a trilha espanhola, o Santos aposta sempre na base e Corinthian­s e São Paulo fazem uma mistura entre a base e o mercado, ora com prevalênci­a de uma política, ora com outra.

Os quatro já viveram momentos de hegemonia no estado e no país, mas nenhum consegue ser autossuste­ntável, manter-se no topo como fazem os grandes clubes europeus.

Ou porque os nossos dependem de mecenas, ou porque recebem ajuda de governador­es e presidente­s da República, que vêm e vão no mesmo diapasão.

Daí ser possível dizer alto e em bom som sobre o Real Madrid aquilo que apenas balbuciamo­s por aqui, em certos momentos, a respeito de nossos clubes: a camisa joga.

Também porque só a camisa merengue para ter um pênalti a seu favor no derradeiro minuto e assim evitar a eliminação pela Juve. Ou não ter assinalado contra si o pênalti de Marcelo no jogo com o Bayern.

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