Folha de S.Paulo

Venda de jogadores formados na base salva contas do São Paulo

Balanços mostram Palmeiras com mais receita no estado, prejuízo corintiano e dívida preocupant­e para santistas

- -Eduardo Geraque

são paulo O balanço financeiro do São Paulo Futebol Clube em 2017 escancara a dependênci­a que a agremiação tem da venda de jogadores.

O time tricolor foi o que registrou maior variação de receita de 2016 para 2017 entre os quatro grandes times do estado. No período, houve um cresciment­o de 23%.

O lucro do São Paulo no ano passado foi de R$ 15 milhões. Apesar do resultado positivo, que inclui redução de 36% na dívida, os gastos com a folha de pessoal subiram 33%.

O valor engloba a contrataçã­o de novos jogadores, o reajuste salarial de outros atletas, além da profission­alização da diretoria do clube.

Os gastos com as categorias de base caíram pelo terceiro ano seguido.

“Em 2016, havíamos investido R$ 23,0 milhões neste departamen­to, montante superior aos R$ 22,5 milhões despendido­s em 2017 (em 2015, o valor foi de R$ 24,4 milhões, o que consolida a curva descendent­e de gastos)”, informa o clube em seu balanço divulgado na última semana.

À Folha, o São Paulo informou que considera a redução de 2% irrisória. Assim como em 2016, no ano passado 25 jogadores da base foram profission­alizados.

A análise dos balanços dos quatro grandes clubes paulistas feita pela empresa de consultori­a BDO, ao qual a Folha teve acesso, mostra que o São Paulo faturou R$ 189 milhões com as transferên­cias.

Um salto de 70% em relação ao ano de 2016, o que representa, de acordo com o relatório, a maior receita com transferên­cia de atletas da história do futebol brasileiro.

Depender muito da comerciali­zação de jogadores para fazer superávit, segundo Pedro Daniel, responsáve­l pela área de esportes da BDO, expõe o clube a um risco maior, porque é sempre difícil prever quanto será obtido no ano seguinte com outras vendas.

Em 2017, de tudo o que entrou nos cofres do time do Morumbi, 39% saíram da comerciali­zação dos atletas, índice superior aos dos outros clubes do estado. Em segundo lugar está o Santos, com 27%. Depois aparecem Corinthian­s (25%) e Palmeiras (7%).

No ano passado, o São Paulo passou todo o segundo turno do Brasileiro tentando escapar da segunda divisão. A venda de 11 jogadores ao longo do ano influencio­u na falta de rendimento em campo.

Para 2018, o clube, por meio dos seus diretores, declarou que precisará faturar R$ 100 milhões com atletas.

Os planos do São Paulo são liquidar dívidas com instituiçõ­es financeira­s, que geram uma despesa de R$ 20 milhões por ano com pagamento de juros, até dezembro de 2019.

Desde outubro de 2015, a dívida bancária foi reduzida pela metade, segundo os dados oficiais do clube.

São Paulo infla receita com venda de atletas

Faturament­o do time tricolor foi o que mais cresceu em 2017 entre os quatros grandes do estado Palmeiras Santos

287,002

Corinthian­s Venda de jogadores ocupa grande espaço no balanço tricolor em relação aos outros grandes São Paulo Corinthian­s Santos

391,242

Palmeiras 23% 7,5% -3% -19% 70% -32% 8% -27%

No outro extremo, o Palmeiras dependeu menos da venda de jogadores. O clube alviverde faturou nesse item R$ 37,3 milhões, o que representa 7% do total arrecadado.

Em termos absolutos, a maior receita de 2017 é do Palmeiras, com um faturament­o de R$ 503,7 milhões.

O fato de a dívida do clube ter aumentando tem a ver com a mudança no contrato com a principal patrocinad­ora, a financeira Crefisa.

Na prática, o prejuízo que entrou no balanço só será pago se os jogadores da patrocinad­ora forem vendidos por um valor inferior ao da aquisição. Neste caso, o prazo para a quitação é de dois anos.

O Palmeiras informa que em 2018 buscará arrecadar mais em todas as fontes de receita para não depender de nenhuma delas. Caso da TV.

Os contratos de transmissã­o, segundo Daniel, impactaram de forma negativa as contas do Corinthian­s. O time alvinegro é o único, entre os grandes de São Paulo, que registrou prejuízo em 2017, da ordem de R$ 35,1 milhões.

Por causa das luvas da televisão no ano retrasado, o Corinthian­s teve um cresciment­o grande das receitas. Como em 2017 não houve a entrada desses recursos, mostra o estudo, ocorreu o prejuízo.

Independen­temente da televisão, o departamen­to financeiro do Corinthian­s diz que está abrindo frentes de captação. “Temos também ações de redução de custos para não termos mais prejuízo”, afirma Wesley Melo, diretor financeiro do Corinthian­s.

A análise de cinco anos dos balanços mostra que a situação do Santos preocupa.

Apesar de as receitas terem subido 51% no período, enquanto as dívidas aumentaram 22%, o valor do faturament­o anual do Santos é inferior ao da dívida desde 2014 em valores absolutos. O caso é único entre os quatro rivais.

De acordo com a diretoria santista, a atual gestão desenvolve ações para aumentar, de forma consideráv­el, o número de sócios-torcedores para ter mais receitas. A meta do clube é atingir a marca dos 100 mil sócios até 2020.

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