Sem calendário equilibrado, futebol do Brasil não é nacional
Desenvolvimento da modalidade no país não superou o Tratado de Tordesilhas, só o leste tem torneios todo ano
ANÁLISE O calendário do futebol do Amazonas termina no dia 31 de maio. Depois disso, só no dia 4 de novembro voltam os jogos da segunda divisão do estado que construiu a Arena da Amazônia para ser uma das 12 sedes da Copa do Mundo.
Há um ano, o Santos venceu a semifinal do Brasileiro feminino diante de 25 mil pessoas no estádio amazonense. Recorde de público do futebol das mulheres.
A final da Liga dos Campeões feminina levou 22 mil pessoas ao Millenium Stadium de Cardiff, em maio do ano passado. Não levará mais gente a Kiev, neste ano.
Então, não dá para dizer que não existe interesse por futebol no Amazonas, que promove o maior torneio de futebol amador do país, o Peladão.
Em 1974, o Nacional de Manaus classificou-se para a segunda fase do Brasileiro por média de renda. A federação local pode ter turbinado os números com compra de ingressos para burlar o regulamento da época. Provável, até.
Mas Santa Cruz e Ceará, eliminados naquele ano, podiam fazer o mesmo e quem se classificou pela presença de público foi campeão amazonense.
O exemplo do maior estado da federação é só para mostrar como é possível fazer futebol de 9 a 11 meses por ano, com um de férias para os jogadores, em qualquer pedaço do Brasil. O Amazonas representa 18% do território nacional e o Mato Grosso, terceiro estado em extensão territorial, soma mais 10%. O futebol acaba ali em maio, exceto pelas presenças de Luverdense e Cuiabá na Série C.
Falamosaquidedoisestados onde o futebol é clandestino. Eles representam 28% do territórionacional,quaseumterço, onde não se pratica o esporte mais popular do Brasil de maneiraorganizadaeprofissional. AelessesomamtambémPiauí, Acre,Roraima,Rondônia,Espírito Santo... O mapa do futebol brasileiroseguesemelhanteao do Tratado de Tordesilhas. Só existe o lado leste.
A soma das Séries A e B nacionais inclui 13 estados.
Nunca se vai alcançar os 26 estados e mais o Distrito Federal na elite. Mas é preciso conjugar o verbo difundir. Espalhar futebol pelo país inteiro, fazer jogar e descobrir jogadores nos 8,5 milhões de quilômetros quadrados.
Uma hipótese seria um sistema de premiação às federações. A verba destinada pela CBF, muitas vezes de forma política, iria para os presidentes que conseguissem as melhores médias de público e gols em seus campeonatos estaduais e os melhores resultados dos clubes de seus estados nas séries nacionais. Se o resultado for nenhum, nenhum centavo como contrapartida.
Outra hipótese é transformar os estaduais em séries de acesso aos torneios nacionais. Não é fácil montar esse quebra-cabeças, mas é possível. O que não pode persistir é a estrutura em que as federações não fazem o futebol ser praticado pelo ano inteiro e seguem com representação política e bônus econômico.
Parece impossível ver o Acre, o Amazonas, o Piauí e o Espírito Santo terem clubes de sucesso. Há 30 anos, parecia impossível Santa Catarina ter times na Série A por 16 anos seguidos. Hoje tem.
A história já registrou o Operário-MS na semifinal do Brasileiro de 1977. Alagoas exportou o zagueiro Pepe que, sem o Brasil perceber, virou titular da seleção de Portugal.
No início dos anos 1990, havia um sistema de exportação de craques do Maranhão para a Bélgica e a Holanda. Oliveira jogou Copa do Mundo como cidadão belga e Wamberto foi titular do Ajax.
Todo esse patrimônio precisa ser brasileiro. Número de clubes ativos em 2017 por estado São Paulo 86 Rio de Janeiro 64 Rio Grande do Sul 44 Minas Gerais 33 Paraná 31 Goiás 31 Santa Catarina 25 Pará 25 Ceará 25 Sergipe 24 Pernambuco 22 Distrito Federal 22 Paraíba 20 Alagoas 19 Tocantins 17 Bahia 17 Espírito Santo 16 Mato Grosso do Sul 15 Rio Grande no Norte 13 Mato Grosso 13 Acre 13 Maranhão 12 Amazonas 11 Rondônia Piauí Roraima
Amapá SUDESTE NORDESTE
O que não pode persistir é a estrutura em que as federações não fazem o futebol ser praticado pelo ano inteiro e seguem com representação