Folha de S.Paulo

Ciro diz ter pena de Gleisi e que PT faz burrice

- Fábio Zanini e Fernando Canzian

são paulo Ciro Gomes, 60, pré-candidato do PDT à Presidênci­a, diz ter “pena” de Gleisi Hoffmann pelo fato de a presidente do PT ter afirmado que o pedetista “não passa no PT nem com reza brava”.

A afirmação de Gleisi foi uma resposta à possibilid­ade de o PT indicar um nome para ser vice em uma chapa com Ciro. “Para se ver como é questão de dar pena, meu partido, o PDT, portanto, eu, estou apoiando quatro dos cinco dos principais candidatos a governador do PT”, disse Ciro à TV Folha.

Para o pedetista, também é “uma burrice” a estratégia do PT de querer pedir aos candidatos de centro-esquerda que defendam um indulto para Lula na campanha eleitoral.

Esquerda desunida

Temos que ter muita paciência e respeito com esse tempo do PT. Mas o que está em discussão não parece ser aquilo que interessa mesmo: a sorte do Brasil ou/e a possibilid­ade dessa agenda antipovo, antipobre e antinacion­al ser legitimada pelo voto.

Isso é o que deveria nos comover e ser o grande cimento de nossa unidade ou de um mínimo de cuidado ao explicitar­mos nossas diferenças. Mas como está dado de barato na cabeça de muitos da nossa turma de que essa gente da direita, o Temer, o PSDB, vai perder as eleições, desloca-se a preocupaçã­o do Brasil para quem vai mandar, quem vai ter a hegemonia do processo. E esse é o grande e velho vício da esquerda antiga do Brasil e do mundo.

Por isso que há a afirmação irônica de que a esquerda só se une na cadeia.

“Reza brava”

Vou ter paciência, respeito e compreendo o drama do PT. E tenho pena de uma pessoa da responsabi­lidade da presidente nacional do PT dizer uma coisa dessas.

Para se ver como é questão de dar pena, meu partido, o PDT, portanto, eu, estou apoiando quatro dos cinco dos principais candidatos a governador do PT.

Minha crença é que a população brasileira não é um eleitorado de cabresto, nem meu nem de ninguém. Eu vou tocar o meu bonde.

Indulto a Lula

O presidente Lula está a meio caminho de recursos [na Justiça]. Se a burocracia do PT cria uma campanha pelo indulto, o que ela está dizendo? Que o Lula será condenado em última instância.

Isso nega a estratégia dos advogados do Lula. A sentença contra o Lula é injusta e a prova é frágil. Eu não vou cair nessa burrice.

Na crise do mensalão, muito petista valentão hoje afrouxou geral. Pergunta para o Lula quem tava lá às sete da manhã todos os dias ajudando?

Não acho, francament­e, que o PT seja inocente nesse quadro todo. Só acho que, nesse momento, o PT é vítima de uma ação desequilib­rada.

Economia

O Brasil está se desindustr­ializando desde os anos 1980 para cá. Em 1980, um terço do PIB brasileiro era extraído da indústria, que era a soma da China, da Coreia do Sul, da Malásia, de Cingapura e do Vietnã e ainda sobrava um pouco.

Hoje a China é sozinha seis vezes e meia o Brasil. Estamos nos desindustr­ializando como nenhum país do mundo, por isso nós temos 13 milhões de desemprega­dos.

Faz muito tempo que a burocracia do PT deixou de pensar sobre essas questões.

Nenhum país do mundo se desenvolve­u sem uma forte indução de um forte Estado nacional em parceira com uma forte iniciativa privada. Nenhum.

O Brasil quando saiu de uma economia rural de subsistênc­ia e virou a 15ª economia do mundo não pelo laissez-faire, pelo espontaneí­smo individual do mercado.

Sei que a iniciativa privada é uma ferramenta indispensá­vel para explicar o progresso, mas sozinha não é capaz de fazer o desenvolvi­mento.

Governabil­idade

Desde o general [Eurico Gaspar] Dutra, em 1945, todos os presidente­s se elegeram com minoria no Congresso. E todos tiveram poderes quase imperiais nos seis primeiros meses a um ano.

O exemplo mais caricato e chocante é o [Fernando] Collor, que se elegeu com nada, fez o sequestro da poupança do povo, e Congresso e Judiciário disseram amém. Portanto, o tempo da reforma são os seis primeiros meses.

Partidos

O MDB precisa ser desmontado como frente hegemoniza­da por uma quadrilha de bandidos. Não vejo o PSDB nem o PT como uma quadrilha de bandidos.

E se não fosse a confrontaç­ão miúda de São Paulo [entre PSDB e PT], eles deveriam ter cooperado historicam­ente. São duas fundações do Brasil redemocrat­izado e, ao se negarem a cooperar, emerge quem? A roubalheir­a e os corruptos.

O Lula botou o Michel Temer na linha de sucessão do Brasil, e a Dilma empoderou o Eduardo Cunha.

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Gabriel Cabral/Folhapress O ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato à Presidênci­a pelo PDT, durante entrevista à TV Folha

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