Barbosa desiste de ser candidato, e aliança do PSB com Ciro ganha força
A aliados, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal relatou temor de ser abandonado pelo seu partido; ele também criticou sistema político
brasília A candidatura própria do PSB naufragou na manhã de ontem, antes mesmo de ser lançada oficialmente. Por telefone, o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa avisou ao presidente do partido que desistira de concorrer à Presidência.
Depois de idas e vindas, que incluíram encontros com líderes do partido, uma filiação partidária aos 45 minutos do segundo tempo e declarações sobre o futuro do Brasil, Barbosa disse ao presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira, que tomara uma “decisão estritamente pessoal”.
Com até 10% de intenção de voto no Datafolha, a saída prematura de Barbosa da disputa mexe num cenário engarrafado por candidatos que ainda não decolaram nas pesquisas.
Por afinidade ideológica —e pelo peso regional do PSB, cujo centro de gravidade ainda é o Nordeste— o pedetista Ciro Gomes surge como eventual beneficiário, se não do espólio de votos de Barbosa, da máquina partidária do PSB.
A decisão do ministro aposentado surpreendeu a cúpula do partido, mas não a amigos e familiares do magistrado, que já tinham identificado sinais de desistência. “Ele agradeceu muito a receptividade do PSB, mas disse que havia refletido muito e que não ia ser”, afirmou Siqueira.
Na sequência, Barbosa publicou uma mensagem nas redes sociais: “Está decidido. Após várias semanas de muita reflexão, finalmente cheguei a uma conclusão. Não pretendo ser candidato a presidente. Decisão estritamente pessoal”.
Na semana passada, ele telefonou para amigos, como o colega de STF Carlos Ayres Brito, para discutir o assunto.
O entorno de Barbosa afirma que pesaram na desistência o seu problema de saúde na coluna e o receio de ser engolido pela estrutura partidária do PSB.
Segundo relatos, o ministro se dizia incomodado com a possibilidade de ter de alterar as suas propostas para se adequar à sigla e que fosse abandonado pelo partido durante o processo eleitoral. O medo dele era iniciar uma série de conversar com possíveis apoiadores, trocar a unanimidade da imagem de juiz pela roupa questionável de candidato, e, no fim, ser deixado sem apoio.
Barbosa havia se filiado ao PSB na data limite para disputar eleições, 7 de abril, e desde então fazia mistério sobre as suas pretensões. Na última pesquisa Datafolha, apareceu em terceiro lugar, ficando atrás apenas de Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede).
Com a desistência, o PSB começou a discutir em caráter reservado quem apoiará na disputa presidencial deste ano. O partido e o PDT de Ciro devem discutir o assunto na próxima semana. “Nunca deixamos de conversar com o PSB e continuaremos a conversar. Só depende deles [um acordo]”, disse o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.
Siqueira convocou para a próxima semana reunião da executiva nacional do PSB. Além de resistência interna, um apoio a Geraldo Alckmin (PSDB) enfrentaria como obstáculo resolução nacional do partido, que proíbe o apoio a quem defendeu as reformas previdenciária e trabalhista.
Principal opositor à candida- CRONOLOGIA DE UMA DESISTÊNCIA 7.abr 19.abr 8.mai O que Barbosa tinha como trunfo nas eleições
Intenção de voto no Datafolha Estimativa de tempo de TV na campanha para a Presidência** tura de Barbosa no PSB, o governador de São Paulo, Márcio França, classificou como “previsível” a desistência. “Pensar que a disputa de outubro será dos ‘outsiders’ é um equívoco. Essa é a eleição dos profissionais, de quem está acostumado a ter estômago de aço e fazer arranjos políticos.”
França sempre trabalhou para que o PSB apoiasse Alckmin, apesar de a cúpula da sigla já ter indicado preferência por Ciro. Dessa forma, o governador deve estimular a neutralidade do partido.
Ainda antes de ser anunciada a desistência de Barbosa, setores do chamado “centrão” já começavam a se movimentar para evitar uma derrota precipitada e o esfacelamento completo do grupo.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por exemplo, discutia nos bastidores a possibilidade de seus aliados, como PP e PR, fecharem acordo com Ciro, como alternativa à aproximação entre Temer e Alckmin. O movimento do presidente em direção ao tucano se intensificou nos últimos dias como uma espécie de abraço dos afogados, mas, após a desistência de Barbosa, apostam auxiliares, pode voltar a esfriar.
O bloco ligado a Maia diz estar ciente de que Ciro tentará, primeiro, fechar acordo com PT e outros partidos da centro-esquerda. A aposta, porém, é de que, se o PT não abrir mão da cabeça de chapa, haverá uma avenida para que parte desse centro migre para a candidatura do pedetista —e ganhe algo com isso.
Não acredito que esta eleição mude o país (...) Os políticos criaram um sistema político de maneira a beneficiar a eles mesmos. O sistema não tem válvula de escape. O cidadão brasileiro vai ser constantemente refém desse sistema. Você não tem como mudá-lo
8% nos cenários com Lula 10% no melhor cenário sem Lula 52 segundos Joaquim Barbosa ao jornal Valor Econômico
A presença de Joaquim Barbosa é boa para o debate eleitoral no brasil
Ciro Gomes (PDT)
Eu respeito o processo decisório do ministro e do próprio partido. O processo eleitoral ainda está no início e é cedo para falar em aliança
Marina Silva (Rede)
É uma perda. Precisamos de novas lideranças, uma maior participação
Geraldo Alckmin (PSDB)
É um atestado de completa ignorância política. Se ele não quer ajudar o Brasil, tudo bem. Estou sozinho nessa briga [contra a corrupção]. Ele poderia ser candidato e ajudar
Jair Bolsonaro após Barbosa afirmar ao jornal O Globo que vê como riscos para o país a eleição do deputado do PSL