Risco de contágio pela via financeira é baixo, dizem analistas
são paulo O risco de contágio da crise cambial argentina no mercado financeiro brasileiro é muito baixo, e seu efeito sobre os negócios na Bolsa nesta terça-feira (8) foi limitado, avaliam analistas.
Para eles, a situação econômica dos dois emergentes é muito diferente, o que protege a Bolsa brasileira e o câmbio de um impacto negativo maior das turbulências enfrentadas pelo país vizinho.
Nesta terça, o dólar subiu 0,4% no Brasil, para R$ 3,568. A Bolsa de São Paulo avançou 0,29%, para 82.956 pontos.
Celson Plácido, estrategista-chefe da XP investimentos, lembra que uma das diferenças é o nível de reservas internacionais que o Brasil possui —a Argentina precisou pedir socorro ao FMI (Fundo Monetário Internacional) justamente por queimar parte de suas reservas ao tentar conter a escalada do dólar.
Na quinta-feira (3), o Brasil tinha US$ 381,824 bilhões em reservas internacionais. A Argentina tinha, no mesmo dia, US$ 56,147 bilhões.
“Estamos em situação oposta. Eles tiveram de subir juros mais rapidamente, a gente está discutindo um novo corte de 0,25 ponto percentual nos juros. A gente tem uma situação confortável de inflação”, afirma Plácido.
O risco de contaminação também é visto como distante por José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. “A Argentina voltou para o começo dos anos 1990, nós não. Turquia, Rússia, Argentina são mais prejudicados [pela alta de juros nos Estados Unidos que tem pressionado o dólar], tem uma hierarquia clara e o Brasil claramente não é o pior.”
O impacto potencial é maior quando consideradas as exportações do Brasil, diz Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos.
“Poderia ter efeito se a crise na Argentina se aprofundasse, com um retardamento da recuperação do crescimento. A indústria automotiva poderia ser punida e afetar nossos números de produção industrial.”
Em relatório, o banco UBS considera que há riscos limitados aos emergentes por causa da situação argentina.
“A pressão sobre o peso argentino responde largamento a um fenômeno global [alta de juros nos Estados Unidos e um dólar mais forte] exacerbado pelas condições idiossincráticas da Argentina”, Dólar encosta em R$ 3,57 Moeda dos EUA avança após decisão de Trump de sairdo acordo nuclear com o Irã e por cautela com Argentina
3.5680 afirma o relatório.
Se a crise no vizinho não afetou tanto o mercado brasileiro, o mesmo não dá para falar da decisão do americano Donald Trump de deixar o acordo nuclear com o Irã.
Preocupados, os investidores correram para ativos mais seguros, como o dólar e títulos de dívida americana, cujos rendimentos aumentaram. Trump também impôs sanções econômicas ao país.
“Pode haver um efeito na produção do petróleo e aumentar o preço”, diz Roberto Dumas, professor de economia do Insper.
“Se gerar pressão inflacionária, o banco central americano pode aumentar juros, e isso é ruim para emergentes, ainda mais num cenário de expansionismo fiscal americano que já eleva a inflação.”
Em nota, a agência de classificação de risco Moody’s disse que a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã “produzirá volatilidade adicional nos preços do petróleo, enquanto o mercado avalia qual o impacto no fornecimento global”.
A Moody’s diz que, apesar do aumento das tensões geopolíticas, espera que os preços do petróleo se mantenham, no médio prazo, na faixa de US$ 45 a US$ 65 por barril. O Brent fechou a US$ 74,85.
O anúncio do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa de que não concorreria à Presidência trouxe alívio à Bolsa.
“Foi bom ele ter desistido para dar mais clareza à corrida eleitoral. É mais difícil traçar cenário com muitos candidatos, é difícil saber com qual percentual é possível chegar ao segundo turno”, avalia Buccini, da Rio Bravo.