Folha de S.Paulo

Temer e os militares

- Bruno Boghossian helio@uol.com.br

brasília Michel Temer procurou o comandante do Exército, general Villas Bôas, para uma conversa reservada nos primeiros meses de 2016. O vice-presidente ouvira que Dilma Rousseff buscava garantias dos militares diante do processo de impeachmen­t que corria contra ela. Temer queria paridade de armas.

Até então, a relação entre o vicepresid­ente e Villas Bôas era protocolar. Quando Temer pedia uma audiência, o comandante notificava o ministro da Defesa e, depois do encontro, relatava a ele o teor da conversa.

Dessa vez, Temer foi discretame­nte à casa de Villas Bôas para um jantar intermedia­do pelo general Sérgio Etchegoyen (amigo do comandante). O vice queria saber como os militares se comportari­am se o Congresso votasse pela saída de Dilma.

Segundo um auxiliar de Temer, Villas Bôas foi comedido: sinalizou apenas que decisões tomadas com base na Constituiç­ão seriam respeitada­s. O futuro presidente ficou satisfeito.

O grupo de Temer buscou respaldo constante na caserna durante a articulaçã­o do impeachmen­t. “Estou conversand­o com generais, comandante­s militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir”, disse Romero Jucá (MDB) na famosa conversa com Sérgio Machado.

Com Temer no poder, o Exército multiplico­u seu prestígio político. Militares ocupam cargos-chave, integram o núcleo de decisões do governo e influencia­m a agenda econômica. A estratégia para a defesa do comércio exterior, por exemplo, é alimentada com informaçõe­s da Abin, subordinad­a a Etchegoyen.

A deferência é tanta que Temer se alinha frequentem­ente aos quartéis em situações delicadas. Quando Villas Bôas disparou um tuíte que soou como pressão sobre o STF na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula, o presidente fez vista grossa.

O aceno mais recente foi dado após a divulgação do memorando da CIA que afirmava que o general Ernesto Geisel autorizou execuções na ditadura militar. “Nem tudo o que a CIA diz é necessaria­mente verdade, uma verdade absoluta”, contempori­zou.

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