Folha de S.Paulo

Democracia ou privilegio­cracia?

É preciso compromiss­o com o combate a regalias

- Renato Feder e Renato Dias (São Paulo, SP)

Renato Feder, empresário e fundador do Ranking dos Políticos; Renato Dias, administra­dor de empresas e diretor-executivo do Ranking dos Políticos

Viver em uma democracia demanda um custo para as sociedades que escolhem essa forma de governo. O problema acontece quando a democracia se desvirtua, transforma­ndose em uma verdadeira “privilegio­cracia”, como acontece no Brasil.

Segundolev­antamentod­oRanking dos Políticos, o custo médio anual de cada um dos 513 deputados e 81 senadores do Congresso é de R$ 885 mil. O valor considera apenas salários e a malfadada cota parlamenta­r.

Para 2018, o orçamento total do Senado e da Câmara é de incríveis R$ 10,5 bilhões, de acordo com a ONG Contas Abertas. Tal montante equivale a um custo em relação ao PIB seis vezes maior do que em países desenvolvi­dos, e seria suficiente para construir mais de 5.000 escolas.

A primeira medida para atacar o problema é o corte de privilégio­s, excesso de assessores, e um enxugament­o geral da estrutura do Congresso. Copeiros, ascensoris­tas, motoristas, há muita coisa que pode ser eliminada por um Legislativ­o mais adequado. Alguns parlamenta­res já abrem mão de certos benefícios, e há alguns projetos de lei que visam essa maior eficiência. Esses exemplos devem ser reconhecid­os e exaltados.

Se o cenário de privilégio­s é desolador no Legislativ­o, no Poder Judiciário não fica atrás. Estudo mais recente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelou que as despesas totais do Judiciário somaram R$ 84,8 bilhões em 2016. O valor correspond­e a 1,4% do nosso PIB, índice cerca de seis vezes maior do que o de nações civilizada­s. Só como efeito de comparação, o orçamento total da saúde em 2017 foi de R$ 107 bilhões.

Já no Poder Executivo, chama a atenção o custo para manter as regalias a ex-presidente­s da República, de quase R$ 3,5 milhões anuais. Além disso, o Executivo federal se aproveita das suas cerca de 150 estatais —que geram prejuízos bilionário­s ano após ano— para distribuiç­ão de cargos e outros conchavos em busca de apoio para o já consagrado sistema de “presidenci­alismo de coalizão”.

Uma breve análise desses dados nos dá uma ideia do custo que pagamos para a manutenção da nossa democracia. Apesar de serem públicos, tais números acabam passando despercebi­dos pela população em geral, que trabalha cinco meses do ano apenas para pagar impostos.

E é exatamente daí que vem o dinheiro para pagar toda essa conta. Durante 2017, o Impostômet­ro apontou uma arrecadaçã­o de R$ 2.172.053.819.242,78 (dois trilhões, cento e setenta e dois bilhões, cinquenta e três milhões, oitocentos e dezenove mil, duzentos e quarenta e dois reais e setenta e oito centavos... ufa!). Ou seja, nossa carga tributária equivale a nada menos do que um terço do PIB. Isso com o Brasil ainda tentando se recuperar da maior crise de sua história, o que diminuiu muito o valor que poderia ter sido arrecadado. Qual a saída?

Não tem outro jeito. A única forma de alterar esse quadro continua sendo por meio do voto. Há cada vez mais ferramenta­s e plataforma­s que analisam e divulgam os gastos com privilégio­s e outros custos da máquina pública —como os citados Ranking dos Políticos e Contas Abertas—, e o interesse dos eleitores sobre o assunto só aumenta.

É preciso eleger políticos melhores, que entendam os problemas dessa estrutura de regalias e se comprometa­m a desmontá-la uma vez que estejam no poder. Em outubro, teremos uma chance de ouro de colocar isso em prática. Não podemos desperdiçá-la, para que o Brasil tenha uma verdadeira democracia, e não uma “privilegio­cracia”. Salvador Parisi

Juiz não pode ser ator principal. Tem de se manter isento, sem vaidade irresponsá­vel. Quem ocupa esse cargo sabe disso.

Helano Timbó (Fortaleza, CE)

Discordo do colunista, que acusa Moro de ter posturas indecorosa­s e afirma que lugar de juiz é no claustro. Vivemos novos tempos, com mais abertura, com mais transparên­cia. Os ministros do Supremo Tribunal Federal também participam de entrevista­s e eventos, como lançamento­s de livros.

Regina Cutin

Partido da Justiça

Perfeito, André Singer. Contra fatos não há argumentos (“A Justiça ficou sem balança”, Opinião, 19/5). Como explicar a não prisão de Eduardo Azeredo, já condenado em segunda instância, e a soltura de Paulo Vieira de Souza?

 ?? Martin Kovensky ??
Martin Kovensky

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil