Folha de S.Paulo

Primeira presidenci­ável não votará em mulher

- -Laís Alegretti

brasília O ano era 1989. Entre 21 candidatos homens, surgia a primeira mulher a concorrer à Presidênci­a no Brasil. Quase três décadas depois e prestes a completar 70 anos, a advogada Lívia Maria Pio de Abreu diz que prefere eleger mulheres, mas não encontra hoje uma candidata ao Palácio do Planalto que a represente.

Ela se define como uma mulher que não é feminista e com ideologia política de centro. Depois do voto nela mesma, nunca mais escolheu uma mulher para a Presidênci­a. “Ainda não apareceu uma candidata com proposta agregadora e programa desenvolvi­mentista”, justifica.

As duas pré-candidatas de 2018 não a agradam. Marina Silva (Rede), diz, é um “puxadinho do PT”. E Manuela D’Ávila (PC do B)? “Não voto por causa do partido. Chega de socialismo neste país.”

Apesar de ponderar que as candidatur­as não estão definidas, ela declara apoio a Guilherme Afif Domingos (PSD). Se ele não concorrer, diz que escolherá Henrique Meirelles (MDB) e, no segundo turno, Jair Bolsonaro (PSL).

Para a cientista política e professora da UnB (Universida­de de Brasília) Flávia Biroli, a falta de mulheres na política —que Lívia destaca— é mais evidente nos partidos de centro e de direita. A explicação está na relação das legendas com as bases.

“A esquerda é mais próxima de movimentos sociais. Como as mulheres sempre atuaram politicame­nte na base, mas não conseguem furar a barreira do partido, a esquerda tem mais mulheres atuando”, diz.

Lívia Maria concorreu em 1989 pelo PN (Partido Nacionalis­ta) e, na TV, iniciava suas falas evocando “mulheres do Brasil”. Os 180 mil votos que recebeu a deixaram em 17º no primeiro turno, à frente de cinco candidatos —entre eles, Fernando Gabeira.

A advogada conta que teve liberdade para fazer o plano de governo , mas não recebeu recursos suficiente­s para realizar uma campanha que não fosse amadora, na definição dela. “Os militares me apoiaram muito, mas não me deram dinheiro.”

A cota de 30% de candidatas nas coligações é necessária, segundo Lívia Maria, porque “os caciques não deixavam as mulheres serem candidatas”.

Em todas as eleições realizadas após 1989, seis mulheres se candidatar­am ao Planalto.

Ao ouvir o nome de Dilma Rousseff (PT), primeira mulher a presidir o país, Lívia Maria afirma: “Não votei na Dilma”. Diz que a ex-presidente é radical e intempesti­va e que “o impeachmen­t não foi por ela ser mulher”.

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? Lívia Abreu, em sua casa em Brasília É advogada e concorreu à Presidênci­a em 1989 pelo Partido Nacionalis­ta. Ficou em 17º lugar no 1º turno, com 180 mil votos
Pedro Ladeira/Folhapress Lívia Abreu, em sua casa em Brasília É advogada e concorreu à Presidênci­a em 1989 pelo Partido Nacionalis­ta. Ficou em 17º lugar no 1º turno, com 180 mil votos

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