Eleitores de Ciro serão os próximos da série
A Folha conversou nos últimos meses com eleitores que declaram voto nos principais pré-candidatos a Presidência nas eleições de outubro. Jair Bolsonaro (PSL), Luiz Inácio Lula da Silva ou a alternativa do PT nas urnas, Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva(Rede) já apareceram na série de debates. No fim de maio, é a vez dos que dizem preferir Ciro Gomes (PDT) no Palácio do Planalto. demais dá bom dia a cavalo.”
É esperar para ver se, em outubro, as urnas favorecerão o perfil pacificador ou “estão mais pra quem fala que vai resolver na bala”, diz Marcos.
Bernard crê ser possível se unir a partidos sem ceder a parlamentares “ruins”. “Ela conseguiria governar com o Eduardo Suplicy e não com a Gleisi Hoffmann [ambos do PT]. Com o Roberto Requião, não com o Renan Calheiros [os dois do MDB].”
Marinês
De tanto usar expressões como “desadaptação criativa” e “transversalidade”, a ex-senadora ganhou a pecha de chata —e fluente num dialeto próprio, o “marinês”.
No que define como “crítica construtiva”, Marcos aponta que Lula e Ciro “são pedagógicos” e ela, não. João Paulo pensa igual. O petista, por exemplo, “vai onde estão as massas, monopoliza todo mundo”.
Gisele ensaia uma defesa da candidata. “O conceito de sustentabilidade é difícil, não há uma tradução coloquial” para um assunto tão complexo, afirma. A oratória rebuscada “é correta também”, afirma Debora, que no passado diz que seu único contato com política era distribuir santinhos em boca de urna, o que é proibido.
Agora, quer “saber mais sobre o assunto, já que minha visão é muito baseada na TV”.
“Só acho que Marina podia falar na forma do povão. Ela vem do povão, mas deve ter aprendido [a falar difícil], né?”, afirma Debora.
É justo dizer que ela não domina a língua do povo? Leonardo acha que não.
Veja bem, argumenta: voto ela tem. Uma montanha deles —19% em 2010 e 21% em 2014.
Um feito e tanto para quem nunca superou os 2 minutos de tempo de TV, menos de um quinto do que o PT tinha. “Dizer que não consegue se comunicar é muita presunção”, diz ele —que votou em Eduardo Jorge (PV) em 2014 por ver o discurso dele como “mais aguerrido”.
“As pessoas têm tendência a admirar professor”, completa Leonardo. Analfabeta até os 16 anos, Marina se formou em história e tem especializações em psicopedagogia e teoria psicanalítica.
O tom por vezes pastoral da presidenciável evangélica, segundo o grupo, também pode ter ressonância com boa parte religiosa do eleitorado.
Fé evangélica
Marina é da Assembleia de Deus. Isso faz diferença na hora de votar —ou não— nela?
Dos sete eleitores, há três evangélicos (Debora, Claudia e Bernard) e dois ateus (Marcos e Gisele). João Paulo é católico e Leonardo não tem credo.
Só Debora diz explicitamente que, sim, a fé da líder da Rede é um ativo eleitoral. “O evangelismo muitas vezes tem pastores que fazem uso errado com dízimo, mas se a pessoa é evangélica, está ali para praticar o bem. Pra mim já é um ponto bom.”
Para Claudia, Marina ser evangélica não quer dizer nada, embora admita que, para ela, “a postura [da pré-candidata] é influenciada pela fé que professa”. Mas, ao destacar um livro que a fez se afeiçoar a Marina, não é a Bíblia que cita. “Fui atraída pela capa [da biografia “Marina - A Vida por uma Causa”], com o rosto dela iluminado. No dia comparei com uma revista que trazia o rosto belíssimo de uma mulher. O de Marina era sofrido, mas muito mais bonito.”
Não é por compartilhar da mesma crença que Marina merece seu voto, diz Bernard. “Mas acho que ela tem uma missão por ser evangélica e por ser progressista.” Até ajudaria a reverter “a visão de reacionarismo cristão” que dá a entender que o segmento “virou homogêneo”, afirma.
“Ela é evangélica e defende o Estado laico.” Bernard lembra que Marina, mesmo sendo pessoalmente contra o aborto, disse que nenhuma mulher deve ser presa se recorrer à prática.
Marcos elogia Marina por “não vir com o discurso estereotipado da ‘bancada BBB’ [Boi, Bala e Bíblia, apelido das frentes parlamentares ruralista, de segurança e religiosa].
“Também sou da bancada dos ateus, meus filhos só falam de Darwin, caso grave”, brinca Gisele. “E sou absolutamente feminista, pró-aborto. Acho incrível como a Marina respeita a diversidade.”
Apoio a Aécio
Leonardo é o mais crítico à aliança com o então presidenciável tucano em 2014. “Foi um erro crasso, estrategicamente devastador. Ela se sentiu muito atacada pessoalmente pela campanha do PT e fez política com o fígado”, afirma.
Fora que alegar ignorância a respeito dos esquemas de corrupção associados a Aécio não cola, segundo o jornalista. “Marina já estava na política há muito tempo. Acho um pouco complicado dizer que não sabia.”
Basta resgatar o diálogo grampeado do senador Romero Jucá, raposa velha em Brasília, com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado —quando Jucá disse que