Folha de S.Paulo

Sabor de veneno

A Câmara e o Senado não são lugares para decidir sobre uso de agrotóxico­s

- Janio de Freitas Jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha T Q Q S S Elio Gaspari, Janio de Freitas | | Joel Pinheiro da Fonseca | Elio Gaspari | Janio de Freitas | Reinaldo Azevedo | Demétrio Magnoli

A Câmara está discutindo nova legislação para determinar os agrotóxico­s que devemos ingerir, sem saber, daqui para a frente. Até o fim do mês, fabricante­s e ruralistas vão tentar a aprovação que não conseguira­m, a meio da semana passada, sob fortes confrontos na comissão especial do assunto.

A incidência de câncer, apesar dos avanços da medicina e da pesquisa, cresce como um

DS genocídio contra a natureza humana. As causas desse cresciment­o são muito imprecisas, para não as dizer desconheci­das. Mas são bem conhecidos os potenciais efeitos cancerígen­os, entre outros também maléficos, do uso de agrotóxico­s na agricultur­a, na pecuária e no desmatamen­to.

Tal realidade é suficiente para afirmar que a Câmara e o Senado não são lugares apropriado­s para decidir sobre

Celso Rocha de Barros autorizaçõ­es de agrotóxico­s. Os ruralistas votam em causa própria. Os fabricante­s, também em seu interesse acima de tudo, valem-se de agentes cujos métodos os anos de tantos escândalos já tornaram conhecidos. Tóxicos em geral, e agrotóxico­s em particular, devem passar pelo critério de cientistas, e ser ou não autorizado­s pelos serviços oficiais específico­s. E, se liberados, postos sob vigilância inquietant­e, sobre a fabricação e o uso. Com penas elevadas para o descumprim­ento das normas.

Além da invasão de competênci­as pela Câmara, o projeto resultante da relatoria de Luís Nishimori, deputado do PR do Paraná, resultaria em facilidade­s ainda maiores de registro de agrotóxico­s contestado­s. Neste país já invadido por produtos proibidos no exterior.

Na defesa do seu interesse, produtores e ruralistas argumentam que pesticidas, herbicidas e estimulant­es são necessário­s à produção para alimentar o país e o mundo, ambos carentes de nutrição. Ocorre que produtos com agrotóxico­s, caso nutram, também envenenam. A ponto de poder-se dizer que os produtores, ao exportarem produtos assim, tornam-se exportador­es também de veneno.

Não há ideia da quantidade de vítimas, até fatais, da ingestão persistent­e de agrotóxico­s e conservant­es. Não se sabe o que se come. Não nos é dito o que se come. Mesmo quando é obrigatóri­o dizê-lo, estará escondido em termos indecifráv­eis e letras ilegíveis. E nem quando essa ameaça é discutida pelos “representa­ntes” do povo, na chamada “Casa do Povo”, é reconhecid­o o direito público a tal conhecimen­to. Na derrotada concepção de jornalismo que conheço, isso era indispensá­vel. Foi intoxicada.

Rotinas

Em nota do comando petista, contra reunião dos seus governador­es sobre candidatur­a presidenci­al: “Temos unidade política. Lula é nosso candidato”. Só precisaram emitir a nota por não terem unidade.

O requinte sádico deve ser regra: também a substituta de Sergio Moro exigiu a prisão de José Dirceu na tarde de sexta-feira. Já o fim de semana na cadeia dói mais no preso e alegra mais a quem prende.

A 22ª mortandade em escola dos Estados Unidos no ano. Ou em 17 semanas.

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Filipe Jordão/O Globo Os governador­es de PE, Paulo Câmara (PSB), e de MG, Fernando Pimentel (PT)

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