Folha de S.Paulo

Meghan quebra tradição e adota diplomacia em vestido francês

- -Pedro Diniz

ANÁLISE Não deveria ser um vestido comum, mas ninguém esperava que, em vez de rebuscamen­to, Meghan Markle adotaria no casamento com o príncipe Harry, neste sábado (19), a chamada “diplomacia fashion”.

Houve quem questionas­se a suposta quebra de tradição da realeza de vestir grifes inglesas em casamentos midiáticos. Mas a assinatura no longo Givenchy, evasê e cuja linha no colo deixa parte da clavícula à mostra, acena para o patriotism­o britânico ao mesmo tempo que levanta as bandeiras feminista e globalista.

Meghan deu um jeito de burlar o protocolo para falar de integração. A grife é francesa, mas sua estilista, Clare Waight Keller, é britânica.

Em um país dividido pelo brexit, cujo efeito no longo prazo pode isolar o país do resto da Europa, a noiva lembra aos britânicos que eles também são imigrantes no continente, assim como a estilista da marca sediada em Paris.

A rainha, por sua vez, seguiu a tradição e emprestou à noiva uma tiara de diamantes que pertenceu à avó paterna, Maria de Teck (1867-1953).

Apoiadora de campanhas em favor da igualdade de gênero, a atriz americana subiu o tom da voz ao escolher uma estilista que, em 2017, virou a primeira mulher a ocupar o cargo máximo na tradiciona­l casa de costura fundada por Hubert de Givenchy, morto em março deste ano.

Keller é, ao lado de Maria Grazia Chiuri, da Christian Dior, uma das raríssimas mulheres que alcançaram esse posto de sumidade da altacostur­a em um território dominado por homens.

Engana-se quem acredita que ela tenha esquecido de homenagear o país de origem. O corte minimalist­a do vestido passaria por um típico traje de festa americano não fosse o enorme véu de tule ricamente bordado nas bordas.

Nada minimalist­as foram os convidados. A primavera justificou o jardim colorido estampado nos looks da realeza, como Pippa, irmã de Kate Middleton, e a própria rainha. Assim como fez em seu casamento com William, em 2011, a duquesa de Cambridge homenageou o estilista Alexander McQueen (1969-2010) ao usar sua grife, agora com um vestido tubo “off-white” (branco envelhecid­o).

A cartilha dos casamentos diz que, para não ofuscar a noiva, não se deve trajar branco ou cor similar. Mas, no caso de Kate e Meghan, a estratégia do visual combinado parece clara: as duas plebeias de conto de fadas devem trabalhar juntas na modernizaç­ão da Coroa e, por questão de sobrevivên­cia, manter intacto o fascínio dos súditos por ela.

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Daniel Leal-Olivas/AFP

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