Folha de S.Paulo

Centro israelita sofre ataque em Pelotas

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porto alegre O Centro Israelita de Pelotas, a 270 km de Porto Alegre, amanheceu com pichações e sinais de incêndio, na última quinta-feira (17). Nas paredes havia dizeres como “Palestina Livre” e “pacto de paz é um fracasso”.

O prédio, que também abriga a sinagoga da cidade, teve vidros e azulejos quebrados, além de lateral e porta de ferro da entrada atingidas parcialmen­te pelo fogo.

O centro israelita registrou um boletim de ocorrência. Esse foi o quinto ato de vandalismo no local desde novembro.

O primeiro envolveu tentativa de incêndio. Já o último até o do dia 17 ocorreu há duas semanas, quando a sede foi pichada com as mesmas frases e “Lula livre”.

O conselheir­o da instituiçã­o, Simon Albert, 82, diz que a caligrafia das pichações indica que elas podem ter sido feitas pelo mesmo autor. Como a região não possui câmeras de segurança, a identifica­ção dos responsáve­is se tornou mais difícil.

Segundo Albert, em Pelotas as religiões sempre conviveram bem. Ele conta que um de seus filhos trabalha para a empresa de um palestino na cidade e ele mesmo faz parte de um grupo de caridade ligado à Igreja Católica. O número de judeus na cidade é pequeno, cerca de 80 pessoas.

“Acho que é obra de radicais, sensibiliz­ados pela questão do Oriente Médio. Radicais de um lado ou de outro são idiotas. Não acredito que quem fez isso tenha contato com os palestinos daqui”, afirma.

O Rio Grande do Sul possui uma comunidade de cerca de 11 mil judeus, segundo a Federação Israelita gaúcha. É a terceira maior do país, atrás apenas das de São Paulo e Rio.

Para o presidente da entidade, Zalmir Chwartzman­n, 67, o ato da semana passada teve conotação de atentado terrorista, por ter tido como alvo um local de culto, a sinagoga.

“O conflito do Oriente Médio terá que ser resolvido no Oriente Médio. A comunidade judaica brasileira tem se pautado, desde sempre, por entender que é errado importá-lo para cá”, diz ele.

“A forma como a gente pode ajudar é mostrando que é possível conviver em paz e respeitar as diferenças.”

Na terça (15), a comunidade palestina lembrou o “Nakba”, êxodo forçado em massa de palestinos após a criação de Israel, em 1948. Em árabe, a palavra significa “catástrofe”.

Um dia antes, mais de 50 palestinos foram mortos pelo Exército israelense em protestos contra a transferên­cia da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém.

Em Pelotas, há 200 palestinos ou descendent­es deles. O presidente da Federação Árabe Palestina no Brasil, Elayyan Aladdin, 40, se disse “surpreso” com a notícia do ataque.

“Nós condenamos essa prática e qualquer tipo de violência”, disse. “Porém, é algo que tem se tornado recorrente em todo o mundo, quando Israel comete crimes bárbaros, para procurar desviar a atenção. O que importa é o que está acontecend­o em Gaza”.

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Hélio Freitag Jr./Diário da Manhã Fachada do Centro Israelita de Pelotas

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