Virada Cultural 2018 começa com clima frio, chuva e atrasos
14ª edição do evento paulistano teve show de Caetano Veloso e Rita Cadilac
são paulo A 14ª edição da Virada Cultural teve início no fim da tarde deste sábado (19) com chuva e atrasos.
Previsto para sair às 18h da rua da Consolação, o cortejo Agora É que São Elas, com Baby do Brasil, Pitty e Tulipa Ruiz, começou 40 minutos depois, devido a problemas técnicos.
Mas o frio e a chuva fraca não espantaram um público animado, que acompanhou clássicos como “Brasil Pandeiro”, dos Novos Baianos, entoado pelas três cantoras.
Após o cortejo das mulheres, a Consolação recebeu a maior apresentação da noite: Caetano Veloso ao lado do bloco carnavalesco Tarado ni Você, que homenageia o cantor.
A empolgação do público com a presença do baiano, que apareceu cantando “Alegria, Alegria”, à qual se seguiram “Tropicália” e “A Luz de Tieta”, causou algum tumulto, e os seguranças tiveram que conter pessoas que tentavam invadir a área do trio elétrico.
Um dos espaços novos neste ano, a Arena Corinthians também começou a noite com atraso. A plateia se impacientava com a demora do show de Leci Brandão. “Estão avacalhando”, disse um homem após 35 minutos de espera.
O clima também afetou a presentação da baiana Gilmelândia, no parque da Juventude. Ela, que rememorou hits dos anos 2000 como “Maionese” e “Bate Lata”, começou seu show meia hora depois.
No mesmo palco, o prefeito Bruno Covas (PSDB) faria a abertura do evento, mas por fim não se pronunciou.
A chuva intermitente, contudo, não causou grandes problemas de estrutura.
Esta edição prometia ampliar a acessibilidade, com intérpretes de Libras —que foram vistos em vários shows—e banheiros acessíveis. No entanto, a porta do único banheiro para cadeirantes do palco da Vieira de Carvalho não abria, impedida por um canteiro.
Procurada, a Secretaria Municipal de Cultura disse que a empresa contratada, MagikBan, arrumaria a localização.
Principal atração estrangeira, a banda americana de ska The Slackers fez apresentação energética e elogiada pelo público crescente na Chácara do Jockey. O repertório contemplou músicas do disco mais recente, “The Slackers” (2016), além de sucessos como “Have the Time” e “Keep it Simple”.
Já o Social Samba Fino deu início às atividades do palco Samba, situado na esquina das avenidas São João e Ipiranga, pontualmente às 19h. O repertório foi todo dedicado a Dona Ivone Lara, morta em abril, aos 96 anos.
Anfitriã do palco Anhangabaú, que neste ano homenageia o apresentador Chacrinha, Rita Cadillac pediu da televisão brasileira mais programas de auditório.
“Tenho certeza que haveria público para isso, o brasileiro ainda guarda fundo a empatia dos tempos do Chacrinha apesar da época difícil que vivemos”, disse Cadillac.
Segundo a ex-chacrete, que enfrentou o frio do Vale do Anhangabaú só de meia-calça, artistas como Anitta “super combinariam com o estilo de Chacrinha”. “Wesley Safadão não só iria participar como acabaria no trono!”
Outra novidade na Virada, o palco Gospel, no Centro Esportivo do Tietê, começou bem com o show do cantor e pastor Fernandinho.
O público, de início escasso, com cerca de cem pessoas, foi crescendo com o passar dos minutos chegando a cerca de 300, segundo estimativa da reportagem. A única reclamação foi a curta duração.
“A gente queria mais “, disse Andrea Aparecida, 31, vendedora, que saiu de Guarulhos para conferir pela primeira vez o trabalho do artista.
No fim da noite, porém, o frio esvaziou a plateia gospel.
A Virada já teve anos mais marcados por protestos do que a de 2018. Na primeira noite da presente edição, as manifestações foram localizadas.
No parque da Juventude, protestos vieram do grupo Não Recomendados, que se apresentava com a Banda Glória e a drag Silvetty Montilla.
Em meio a gritos de “Fora, Temer”, o grupo convocou o público a participar mais ativamente da política. A plateia cantou junto: “Precisamos falar de política. E a praça pública ocupar. A nossa luta é pela resistência popular”.
No palco Queer, o cantor Rico Dalasam lembrou Marielle Franco e Matheusa Passarelli, respectivamente vereadora do PSOL e estudante de artes transexual, ambas assassinadas neste ano no Rio. “Matheusa presente, Marielle presente”, disse.
“As trans resistem, as bichas resistem. Quando a gente se encontra assim é uma grande celebração, a vida de mais um dia, isso é sempre um campo de energia de reforço. Que eu volte para mais um dia e que você volte para mais um dia.”
Já no cortejo de Caetano, um grupo se manifestou em frente ao carro de som, levantando cartazes contra o PL 6299/2002, que libera o uso amplo de agrotóxicos.
Entre os que protestavam, CENTRO
Ultraje a Rigor 8h, no vale do Anhangabaú
Fafá de Belém 10h30, no boulevard São João
Nação Zumbi 13h30, no boulevard São João
Fernanda Abreu 15h, no palco Anos 90 (lgo. do Arouche)
Cortejo É o Tchan e Sheila Mello 16h, na esquina da rua da Consolação com a rua Sergipe
Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá 16h30, no boulevard São João
Falamansa 18h, na praça do Patriarca
PARQUE DA JUVENTUDE Rael convida Iza 16h30
ITAQUERÃO Xande de Pilares e Eliana de Lima 17H
CHÁCARA DO JOCKEY Paulo Miklos 14h Jota Quest 16h
PRAÇA DO CAMPO LIMPO Diogo Nogueira 14h
Os Prettos com Beth Carvalho e Samba da Vela 18h estava a chef de cozinha Bel Coelho, que subiu no trio e disse: “Precisamos saber o que estamos comendo”.
Também nova no evento, a sessão de cinema no vão do Masp recebeu cerca de 300 pessoas, que viram documentários como “Sabotage: O Mestre do Canão” (2015), de Ivan 3P.
Na rua 15 de novembro, onde foram exibidos filmes de terror, um Freddy Krueger transitava interagindo com o público e tirando selfies.
Na atual diretriz, a Virada mantém a descentralização que marcou a primeira edição do evento sob a gestão do então prefeito João Doria (PSDB). No centro, continua a aposta em estruturas menores, para evitar tumultos.
Mas, dada a queda de público do último ano (1,6 milhão de pessoas, contra público entre 3 milhões e 4 mi- lhões nos anos anteriores), a prefeitura excluiu locais como autódromo de Interlagos e do Sambódromo. são paulo Nome fortíssimo do samba, o Fundo de Quintal faz no domingo (20) sua segunda participação seguida em uma Virada Cultural. Mas emoção e cenário serão outros.
Em 2017, o show homenageou Almir Guineto (19462017), morto semanas antes, em uma praça do Campo Limpo esvaziada pela chuva e pelo estranhamento do público face à pulverização do evento.
Em 2018, os veteranos tocam na região central e festejam: o show integra as celebrações de 42 anos de história.
Nascido do bloco de Carnaval de Cacique de Ramos, no Rio, o Fundo de Quintal projetou cantores e autores essenciais do samba, como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Jorge Aragão e Almir Guineto.
“É uma chance de rever o povão paulistano”, diz Ubirany, 78, um dos três membros fundadores ainda na banda.
O percussionista diz que ele e os colegas têm carinho pela cidade: “É uma segunda casa; por muito tempo, fizemos aí 70% de nossos shows”.
O último dia da 14ª Virada terá outra lenda do samba: Beth Carvalho, 72, também ligada ao Fundo de Quintal, do qual foi compositora e madrinha.
Ela e o conjunto Samba da Vela serão convidados em um show da dupla Os Prettos —os irmãos Magnu Sousá e Maurilio de Oliveira, que foram do Quinteto em Branco e Preto.
Outros gêneros também têm artistas de peso na derradeira programação da Virada.
Às 16h, em palco de jazz e música instrumental (cruzamento das ruas Sete de Abril e Conselheiro Crispiniano), João Donato, 82, fará show baseado no disco “Sintetizamor” (2017), marcado por experimentos com funk e eletrônica.
Às 16h30, os Paralamas do Sucesso tocam no palco Rock (av. Ipiranga, 210). O Falamansa se apresenta às 18h, no palco Forró (pça. do Patriarca). E Rael recebe a cantora Iza no pq. da Juventude, às 16h30.