Safra atual da MPB recria álbuns de veteranos
Em dez episódios, série ‘Os Ímpares’ homenageia nomes como Walter Franco, Ronnie Von, Sérgio Sampaio e Di Melo
são paulo Começa nesta segunda (21) a exibição de “Os Ímpares”, série de dez programas no canal Curta! que contempla nomes da música brasileira com trajetórias pessoais e estéticas únicas, difíceis de classificar. Por isso mesmo, eles influenciaram artistas espertos das gerações posteriores.
Cada episódio vai mostrar dois artistas da safra atual da MPB recriando canções de um disco luminar dos veteranos. Há uma evidente intenção de surpreender na escalação organizada pelos diretores da série, Henrique Alqualo e Isis Mello. Algumas combinações de antigo e novo têm resultados inesperados.
Para Isis Mello, “Os Ímpares” é um programa que traz uma convergência de linguagens. “Ao mesmo tempo que mostramos todo o processo criativo da elaboração das novas músicas, contamos a história desses álbuns e artistas de uma maneira simples e afetiva”, afirma a diretora.
No programa de abertura, o foco é o disco “Di Melo”, do artista pernambucano de mesmo nome. Nesse álbum de 1975, o cantor esboçou um rascunho do que poderia ser o legítimo soul brasileiro. Emicida e Pretinho da Serrinha revisitam seu trabalho, numa mistura de soul, rap e samba.
Vale dizer que só quase 40 anos depois Di Melo voltaria a lançar disco. Seu ostracismo rendeu até boatos de que ele teria morrido. Não por acaso, seu álbum mais recente, de 2016, tem o título “Imorrível”.
Dificuldades para se encaixar no mercado fonográfico são uma constante na carreira desses músicos singulares.
O paulistano Walter Franco, 73, que injetou vanguarda na música popular brasileira nos anos 1970 e teve sucesso popular na virada para a década de 1980, gravou apenas um disco (“Tutano”, 2001) nos últimos 35 anos.
Quem regrava Walter são As Bahias e a Cozinha Mineira e Ava Rocha, refazendo faixas do álbum “Revolver” (1975). Neste e em todos os programas, a narrativa mistura as novas gravações com depoimentos do homenageado e impressões dos artistas mais jovens.
Há uma discussão da relevância do material, proposta por Berna Ceppas (diretor musical da série) e Felipe Pinaud (produtor musical).
Alguns dos artistas reverenciados vivem sob o rótulo de malditos, mesmo rejeitando essa classificação, como Itamar Assumpção (1949-2003), Sérgio Sampaio (1947-1994), o citado Walter Franco e Jards Macalé, 75. Este último ganha releituras dos convidados mais populares entre os convocados da nova geração, Criolo e Nação Zumbi.
Num índice de popularidade entre os homenageados, os extremos ficam com Ronnie Von, 73, e Pedro Santos (1919-1993).
Conhecido nacionalmente desde a jovem guarda, quando era chamado de “Príncipe” (para rivalizar com o “Rei” Roberto Carlos), e hoje reinventado como bem-sucedido apresentador de TV, Ronnie comparece na série por causa de “A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais”. Esse álbum hippie conceitual de 1969 recebe versões das bandas Dônica e Opala.
Já o carioca Pedro Santos, também chamado Pedro Sorongo ou Pedro da Lua, é sem dúvida o personagem mais obscuro da série, mas um dos mais inventivos —a ponto de criar seus próprios instrumentos, como o berimbau tocado com a boca, batizado de berimboca.
Pedro Santos foi percussionista de famosos como Milton Nascimento, Elis Regina, Elza Soares e Baden Powell.
Seu único álbum autoral, “Krishnanda” (1968), é revisitado por BaianaSystem e Domenico Lancellotti.
Completam a série os cariocas Jorge Mautner, 77, e Arthur Verocai, 72, ainda atuantes em palcos e estúdios, e o cantor e percussionista mineiro Marku Ribas (1947-2013).
Os Ímpares
Às segundas (estreia em 21/5), às 20h, no Canal Curta!