Folha de S.Paulo

[SOBRE O TEXTO]

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Som de barco a remo, se aproximand­o devagar, no meio da noite.

EXT. NOITE/MADRUGADA. BARCO A REMO

Um barco a remo se desloca devagar por um rio largo, na calada da noite, até chegar a uma ilha.

Amparo (42), mulher forte com traços indígenas, cabelo longo preto, Núria (11) e Fábio (9) estão sentados com suas malas na canoa, conduzida por um senhor magro, e seu filho que segura uma lanterna.

A água do rio está baixa e evapora na madrugada.

EXT. NOITE/MADRUGADA.

ISLA DE LA FANTASIA/BARRANCO DE CHEGADA

Eles chegam ao barranco da Isla de La Fantasia, onde uma senhora com uma lanterna os espera, em meio à névoa do lugar. Descem da canoa.

Abuelita (70), mestiça indígena, bra- sileira, os recebe, emocionada. Abraça Amparo, quase chorando, quando esta sai do barco.

ABUELITA

Yo no creo! No creo que están vivos!

Núria e Fábio, agarrados às suas malas e mochilas olham para Abuelita estranhand­o-a. Núria tem brincos e sapatos fluorescen­tes.

ABUELITA Tu hijo?

Amparo faz que sim.

ABUELITA

Que suerte que llegaron aquí! Que suerte! Bienvenido­s! Vengan!

Ela beija e abraça Fábio e Núria ao mesmo tempo, ajudando-os a subir a encosta com as malas.

EXT. NOITE/MADRUGADA.

ISLA DE LA FANTASIA/CAMPINHO DE FUTEBOL

Atravessam um campinho de futebol vazio, na penumbra da madrugada, indo em direção à casa da Abuelita.

Sobem as escadas de uma casa grande de palafitas, de dois andares, onde moram diversas famílias.

EXT/INT. NOITE/MADRUGADA. CASA DA ABUELITA

Entram na casa seguindo Abuelita. MARIA, indígena de uns 50 anos, dorme numa rede e checa o horário num celular. Vê-se na penumbra os pés de várias pessoas que dormem juntas num colchão no chão.

Abuelita acende um lampião a gás na mesa.

Muitas panelas penduradas na parede refletem sua luz.

Abuelita, murmurando sozinha, pega uma chave pendurada na parede, perto da mesa da cozinha, um jogo de lençóis e duas toalhas que estão dobradas sobre a mesa e vai em direção à porta, seguida por Amparo e seus filhos. EXT. NOITE/MADRUGADA. CASA DE AMPARO

Sobem em outra casa parcialmen­te construída próximo dali. Abuelita abre a porta.

INT. NOITE/MADRUGADA. CASA DE PALAFITAS

A casa é de dois andares, tem algumas janelas e uma parede fechada por plásticos.

Na sala de entrada tem uma mesinha, uma rede, um fogareiro, um sofá velho e quase nenhuma panela na parede, onde também figura um calendário antigo e uma foto esquecida de outra família.

ABUELITA

Ellos tuvieron que huir, pero cuidamos de ella como podemos.

AMPARO

Gracias tía, muchas gracias...

Abuelita deixa as chaves da porta, o lampião a gás, a troca de lençóis e toalhas lavadas com Amparo e sai da casa. Amparo fecha a porta.

INT. NOITE/MADRUGADA. CASA DE AMPARO

Núria observa Abuelita e sua lanterna se distancian­do pelas frestas das paredes de madeira, que rangem.

Observa que tem frestas largas inclusive no chão da casa.

Fábio pega umas botas de couro, sujas de terra, que estão num canto, no chão. FÁBIO

Mira, mamá, igualitas a las de papá!

AMPARO

Não mexe nisso, que não é nosso!

Fábio tenta vesti-las.

FÁBIO (O.S.)

Casi me sirven, como las de papá.

Encara a mãe.

AMPARO

Vem, me ajuda a fazer a cama.

Amparo abre o lençol que Abuelita deixou, levantando poeira do lugar ao sacudi-lo.

BLACK COM TÍTULO DO FILME: “LOS SILENCIOS”

Esta página traz trecho do roteiro de “Los Silencios”, filme escrito e dirigido por Beatriz Seigner, que foi exibido na Quinzena de Realizador­es de Cannes. Este é o segundo longa dirigido pela brasileira, que já havia lançado “Bollywood Dream” (2010), primeira coprodução entre o Brasil e a Índia.

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