Folha de S.Paulo

Sem afetação

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Desta vez não tem comida, só umas coisas para acompanhar a bebida. Eu me esqueço que sou, principalm­ente, jornalista de vinhos. Tinha me cansado do tema, os vinhos estavam muito pomposos, todo mundo seguia tabelinhas de safras (a coisa mais inútil do mundo) e só falava de grandes rótulos, de nomes importante­s. Foi me dando uma melancolia. Tirei o ano passado como sabático, parei de prestar tanta atenção ao tema. Mas a reviravolt­a já estava acontecend­o e percebi agora.

As pessoas gostam de orgânico, natural, porque é mais saudável, ou algo assim. Acho que elas têm razão. Mas ninguém vai se salvar ou viver mais por causa de uma taça de vinho. Vinho não é remédio, é prazer.

Comecei a gostar de biodinâmic­a e de seus primos (naturais, orgânicos) quando senti nos vinhos alguma coisa mais saborosa, menos igual. Não estou falando do artesanal, há bons vinhos produzidos em grande escala, aquele fetichismo de “ele fez só 280 garrafas numeradas” não me pega. Sempre estou ocupado com o sabor, quando falo de comida ou de bebida.

O que me reanimou é que os vinhos voltaram a encantar, deixaram o apolíneo de lado, a foto imprescind­ível na rede social do “big name” caríssimo, e reencontra­ram Dionísio numa esquina qualquer.

Semana passada estive no Jardim dos Vinhos Vivos. Fui falar sobre a uva chenin blanc. Abri algumas garrafas que trouxe na mala da África do Sul e mais duas da importador­a Wine4U que foram destaque na coluna. Expliquei um pouco da região de Swartland, dos produtores que foram para lá, só com vontade de extrair belos líquidos de vinhedos muito antigos, quase abandonado­s.

A geografia do vinho é muito fascinante e não tem nada de nerd em ver o rio, a montanha, o chão pedregoso ou o solo branco Vinhedo na região de Chablis, na França r. Harmonia, 239, Vila Madalena, tel. 99133-4000

seg. a sex., das 14h30 às 20h; sáb., a partir das 14h30; dom., das 16h30 às 23h

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