Milhões de pessoas
(ou 2,044 milhões com 60 anos ou mais)
No meio de 30 idosos, todos imigrantes —sírio-libaneses, gregos, italianos, portugueses—, punha-se a observar, a ouvir, a tentar entendê-los. Ele se lembra das mulheres proseando pela casa, contando histórias de seus países de origem, sob os palpites animados das cozinheiras.
Kalache continua escutando, observando e aprendendo.
Quando está no Brasil, visita diariamente a mãe, Lourdes, que completa cem anos no dia 27 de julho. Até hoje, quando ela vê um galã na TV, cutuca quem está por perto e diz: ‘‘‘Esse aí é bonitão, hein?’”, conta.
O envelhecimento não acaba com as fantasias. “Continuamos com os nossos interesses. Não é uma questão de libido”, explica o médico. Lourdes, por toda a vida, foi uma mulher ativa. Tocava piano, falava outros idiomas. E, vale lembrar, continua esbanjando vaidade.
Quatro anos atrás, entrou num processo demencial. Kalache explica que, a partir dos 85 anos, 40% dos idosos correm o risco de serem acometidos por doenças como Alzheimer e demência vascular, tipo de perda de memória associada a problemas da circulação do sangue para o cérebro. Quase sempre, diz o médico, é impossível distinguir um do outro.
Já se sabe, porém, que existem maneiras de envelhecer melhor. Otimizar as oportunidades de saúde é uma delas, assim como ampliar o conhecimento, participar ativamente do convívio social e não abrir mão de questões relacionadas à segurança e à proteção.
“À medida que envelhecemos, corremos para passar a vida a limpo”, analisa Kalache. “Queremos perdoar e ser perdoados. Queremos deixar um legado sem rancores.” Quem não quer, não é mesmo?