Folha de S.Paulo

Caçadores, madeireiro­s e traficante­s cercam índios

- Juruá Reserva Extrativis­ta do Médio Juruá

Quem chega à aldeia Apiwtxa vê logo que está em uma vila ashaninka: “Eles parecem estar na mesma posição há muito tempo”, brinca o fotógrafo Sebastião Salgado. Essa permanênci­a se expressa nos elemencult­urais, como nas roupas, no estilo das casas, nos hábitos alimentare­s e nas histórias que contam, em que a derrota dos incas parece ter acontecido há pouco.

Na comunidade, a cerca de três horas de barco de Marechal Thaumaturg­o, no Acre, homens e mulheres ainda vestem as túnicas descritas pelos viajantes do passado, chamadas kuzma. Homens plantam algodão, mulheres fiam e tecem.

As roupas dos homens têm listras verticais na trama do tecido; nas túnicas femininas, o tecido é liso, e as listras, horizontai­s, são pintadas com tinta feita da areia do rio, preta. Os homens usam ainda um chapéu de palha rígida, com penas, e uma faixa no pescoço que parece uma gravata.

As casas estão como sempre estiveram: sem paredes (quando há, é uma pequena proteção contra o AC vento na área de cozinhar), têm o piso de madeira elevado do chão, cerca de um metro. São unidades familiares. Quando uma filha casa, seu marido vai morar com ela por um tempo na casa dos pais dela, como para testar a relação. Depois, fazem uma casa ao lado. Mais tarde, quando vêm os filhos, a nova família se muda para mais distante: os ashaninkas não gostam de muvuca, como já notavam os viajantes espanhóis do século 16.

Por isso, Apiwtxa é uma aldeia espalhada, com casas distantes umas das outras, separadas por árvores de forma que um vizinho não enxergue o outro. O visitante deve fazer barulho para antecipar a sua aproximaçã­o. Essa singela regra de etiqueta já havia sido descrita no livro de um viajante francês do século 19, Olivier Ordinaire, ao explicar por que os índios haviam atacado cinco brancos em uma região do Peru: eles haviam chegado às casas dos ashaninkas sem avisar. O viajante francês explica, compreensi­vo: “Eles não são tão violentos como se costuma crer”. AM

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