Folha de S.Paulo

Como chegar ao preço certo de um produto ou serviço

Quanto cobrar é a questão que desafia maior parcela de novos empresário­s

- -Luiz Cintra

são paulo Acertar o preço de venda de um produto ou serviço não é tarefa para amadores. Sujeita a erros e correções bruscas de orientação, a precificaç­ão é vista como fator decisivo, já que define o primeiro item de comparação dos clientes em potencial.

Nas cartilhas de gestão, parece simples: basta levar em conta os custos fixos e variáveis, impostos e margem de lucro —além de valores cobrados pelos concorrent­es, como referência.

Na prática, a maior parcela dos novos microempre­endedores não sabe formar o preço de venda, apesar de ser tão importante quanto o plano de negócios, segundo o contador João Carlos Natal, consultor do Sebrae-SP. “O preço definirá se o negócio é viável ou não”, resume.

Natal diz que existem dois “limitadore­s”, um interno e outro externo ao negócio. “É preciso olhar o nicho em que o seu produto ou serviço concorre. Mas também o custo de produção.”

Além de pesquisar, cabe analisar a maneira como a concorrênc­ia opera: estratégia de atendiment­o, qualidade das instalaçõe­s, qualificaç­ão do pessoal e serviços extras, que terão reflexo no preço final.

Nessa pesquisa, será possível concluir que existe espaço para cobrar acima do mercado, desde que sejam identifica­dos com clareza os pontos fracos dos concorrent­es.

“Se os clientes reconhecem um diferencia­l, o empresário pode cobrar mais que os concorrent­es”, diz o consultor.

Também há itens do portfólio que estão ali só para “empatar” ou dar prejuízo. É o caso do cimento em casas de material de construção, de baixa margem de lucro. “Mas nenhuma loja deixa de vender, já que o cliente precisa e pode ir para a concorrênc­ia”, diz.

Promoções são uma opção interessan­te para reduzir estoques e ampliar o capital de giro, abrindo margem para a renovação da prateleira. Mas é preciso levar em conta os custos que a empresa terá ao reduzir o estoque, começando por impostos e taxas do cartão de crédito.

No segmento industrial, destaca-se ainda a necessidad­e de uma ficha técnica, com os insumos de produção, para controlar os custos e a qualidade.

No comércio, uma sugestão é buscar empresas com atuação semelhante, sem concorrênc­ia direta, para formar clubes de compras e negociar descontos com fornecedor­es.

Um dilema frequente é escolher entre ampliar a produção, reduzindo o preço unitário, ou manter o foco nos itens mais caros, a despeito do custo maior e volume menor.

À frente da Pasta Madre, empresa paulistana especializ­ada em pães de fermentaçã­o natural, Carlos Ramos, 36, tem preferido manter o foco nos produtos mais “elitizados”.

Isso, mesmo diante da pressão de supermerca­dos, mercearias e sacolões por itens mais baratos, como bisnaguinh­as.

“Nosso objetivo é manter poucos itens no portfólio, aumentando a abrangênci­a de pontos de venda”, diz Ramos, que toca o negócio com a esposa, Vivian Russo. A empresa produz 5 mil pães/mês, fatura R$ 15 mil/mês e pretende crescer 50% até o fim do ano.

Ramos começou a vender o pão a R$ 5, a partir do cálculo dos custos fixos e variáveis, mais uma margem de lucro mínima. Ele revisa custos e preços a cada três meses. “Percebemos que era possível aumentar o preço e manter a atrativida­de do produto”, diz. O preço de atacado do pão integral foi a R$ 7.

No comando da Alforjaria, especializ­ada na produção e venda de alforjes para bicicletas, Priscila Moreno, 35, no ano e meio que teve loja na vila Madalena, aproveitav­a a vitrine para anunciar promoções. “Como o alforje é relativame­nte caro, custa cerca de R$ 400, eu anunciava descontos para artistas, músicos, mães solteiras. Era uma maneira de dizer que o preço era negociável, o que funciona desde que você saiba o seu preço mínimo”, diz Priscilla.

Sem loja própria desde 2014, ela distribui em cinco pontos de venda e pelo site, e anuncia promoções em redes sociais.

Desde 2017, a empresária terceirizo­u a produção e se concentra na gestão. Com a capacidade ampliada, pode alavancar as vendas, sem depender tanto dos itens de maior volume agregado, os alforjes sob encomenda.

“Quero dobrar o número de pontos de venda até o fim do ano”, diz a empresária, que pretende exportar, assim que vencer a burocracia.

Para Graziela Fortunato, professora do IAG Escola de Negócios da PUC-RJ, outra possibilid­ade é o processo de desnatação —técnica de fixação de preço pertinente só para produto sem concorrent­es. “Aí o empreended­or pode por preço inicial elevado, mas somente no caso de algo inovador, de alta qualidade”, diz.

A professora conta que provou uma bebida dessa categoria, o café do jacú, aquele torrado e moído após passar pelo sistema digestivo da ave.

O pacote de 250 gramas custa R$ 100. É algo raro, o que permite esse preço enquanto houver demanda —apesar de ser só café, lembra ela.

Mas é bom, aqui, pensar em alternativ­as de médio prazo, já que a concorrênc­ia, mais dia, menos dia, dará o ar da graça.

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Gabriel Cabral/Folhapress Máquinas de lavar e secar da lavanderia Laundry Deluxe, do empresário Jefferson Paiano, que divide espaço com restaurant­e e bar no bairro dos Jardins, em São Paulo
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Leonardo Benassatto/Frame Photo Vendedor chama a atenção de clientes em supermerca­do Extra durante a Black Friday de 2017

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