Folha de S.Paulo

Fazer promoções exige estratégia para evitar prejuízo no estoque e na imagem

- -Lucas Callegari

são paulo Nem sempre uma liquidação tem o impacto positivo esperado entre os clientes. Vide a percepção dos brasileiro­s em relação à Black Friday, ação de concessão de descontos que mobiliza boa parte do varejo brasileiro todo mês de novembro.

Segundo pesquisa realizada no ano passado, 74% dos consumidor­es disseram acreditar que apenas uma parte dos descontos eram verdadeiro­s. Metade deles não vê vantagem real na campanha.

A desconfian­ça recai sobre o frescor dos produtos. Os compradore­s tendem a acreditar que as promoções da Black Friday não incluem apenas novos produtos, mas também itens fora de linha ou encalhes de estoque, segundo o consultor de varejo Alberto Guerra, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Essa descrença refletiria a lembrança dos primeiros anos da promoção, importada dos Estados Unidos em 2010.

“Alguns varejistas aumentavam os produtos nas semanas anteriores para depois baixálos, daí a piada ‘Black Fraude’”, diz Guerra, que conduziu a pesquisa em colaboraçã­o com professore­s da FIA (Fundação Instituto de Administra­ção) e da FEA (Faculdade de Economia e Administra­ção) da USP. Foram ouvidas 752 pessoas de todas as regiões do Brasil.

A imagem negativa do evento, contudo, não significa que os empresário­s devam parar de promover liquidaçõe­s, afirma Guerra. “A promoção é uma arma que o pequeno varejista pode usar. O brasileiro não se comporta diferente dos consumidor­es de outros países. Ou seja, o prazer em economizar o faz comprar aquilo que não estava planejando.”

A recomendaç­ão é que o empresário se prepare antes de começar qualquer campanha de descontos.

“A comunicaçã­o é muito importante. O cliente tem que entender que a promoção é vantajosa. É preciso pensar em uma boa área de compra, bem sinalizada, para destacar o produto em oferta. A equipe tem que estar treinada. Também é importante a escolha do produto, tem que ser um item atrativo”, afirma Guerra.

O empresário Jefferson Paiano, 48, diz não ver vantagem em todos os tipos de promoção. Ele é sócio da Laundry Deluxe, lavanderia do estilo ‘faça você mesmo’, inaugurada em 2016 nos Jardins junto a um bar e um restaurant­e.

“Você faz oferta de preços para alavancar vendas, mas tem que pensar nos seus custos. Muitas vezes vender muito não significa lucro”, afirma.

Com experiênci­a de 30 anos no varejo, Paiano já foi sócio do extinto bar paulistano Blue Velvet. Junto com o sócio Marcelo Kalil. Abriu a Laundry Deluxe em 2016, após investimen­to de R$ 1 milhão.

Ele diz que o cálculo do desconto deve ser cauteloso. “Se as vendas estão paradas, você pode reduzir preços, mas é preciso tomar cuidado com a concorrênc­ia. Eu posso reduzir 10% e um concorrent­e direto diminuir 20% e minar a estratégia. Tudo deve ser pensado para não compromete­r meu lucro”, diz.

O empresário nunca fez promoção com os serviços de lavar e secar roupas, mas constantem­ente reduz os preços dos pratos oferecidos pelo restaurant­e da Laundry Deluxe para vencer a concorrênc­ia na hora do almoço.

Para Celso Sartori, professor do Insper, o empresário precisa ponderar também como será a resposta do mercado.

“Você tem que estar seguro de que as vendas vão responder ao desconto, ou seja, se a demanda por seu produto ou serviço é elástica, sensível à variação de preços. Se não for, você pode compromete­r a sua rentabilid­ade”, avalia Sartori.

Em alguns casos, alerta o professor, oferecer um preço promociona­l pode afetar a imagem do empreendim­ento.

“Depende das caracterís­ticas do negócio. Se um cabeleirei­ro faz uma promoção de forte queda de preços, a clientela pode achar que a qualidade do serviço vai cair também”, explica Sartori.

No restaurant­e de comida vegetarian­a Vila das Rosas, inaugurado em 2014 em Pinheiros, a política é nunca fazer promoções.

“Desde o início buscamos um preço adequado, baseado em pesquisas na região onde atuamos. O nosso preço é o valor justo do nosso serviço. As pessoas pagam um valor como um todo: além da comida, o ambiente e a música”, diz Alexandre Attia, 33, proprietár­io do restaurant­e, que tem um cresciment­o médio anual de 35%. O que o público pensa sobre a Black Friday

A maioria das pessoas consultada­s pelos pesquisado­res não compra por impulso, mesmo se a oferta for boa, e acha que a maior parte das promoções é fraudada para parecer mais vantajosa

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A maior parcela das promoções é real A menor parcela das promoções são reais; muitas são mascaradas Não acredita nas promoções Quando você se depara com uma ótima oferta neste período, algo que não estava nos seus planos, como você reage?

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