Folha de S.Paulo

Venda de produtos baratos exige mais foco na gestão do estoque

- -Alessandra Milanez

são paulo Mesmo com a alta concorrênc­ia e a margem de lucro baixa, a crise deixou oportunida­des para comércio de produtos muito baratos, as lojas de R$ 1,99.

Há fatores cruciais para se manter competitiv­o mesmo com preço baixo, diz Renata Corrêa Nieto, líder do Provar (Programa de Administra­ção de Varejo) da FIA (Fundação Instituto de Administra­ção).

O primeiro é a localizaçã­o. “É fundamenta­l conhecer a região e apurar o que vende bem ali”, diz. Também é importante ter cuidado na hora de criar o cardápio de produtos, todos muito baratos.

Isso requer uma busca constante de fornecedor­es, para que preço e margem de lucro não sofram. “Há sites de atacado nacionais e em outros países”, afirma. A loja deve investir em novos produtos o tempo todo e eles precisam ficar bem expostos para atrair de cara o cliente, diz Nieto.

Este tipo de negócio depende de um volume alto de vendas para gerar receita, já que os valores unitários dos produtos são muito baixos. Para isso, deve ser feita uma boa gestão de estoque, que evitará o encalhe da mercadoria.

É essencial observar a preferênci­a dos clientes e ajustar a quantidade de produtos para minimizar a demanda por investimen­to.

A capacidade de atendiment­o do fornecedor e a urgência dos pedidos, incluindo aí itens para datas festivas, também têm impacto no preço final.

Fernando Neves, 56, é sócio de uma bombonière no centro de São Paulo, a Zé Bolacha. Desde 2014, o movimento no local caiu 30%, e o primeiro trimestre não mostrou melhora. Para aquecer as vendas, ele criou promoções e procurou itens mais em conta.

Ainda assim, foi preciso ajustar alguns custos. “Seguramos a alta do aluguel, economizam­os com luz e água e reduzimos o quadro de funcionári­os”, afirma. Neves conseguiu reequilibr­ar as contas e, para este ano, a projeção é de estabilida­de em relação a 2017.

Entre os setores do comércio de produtos baratos que cresceram mesmo na crise estão roupas, ferramenta­s, itens de jardinagem e pet shop.

Alberto Serrentino, da consultori­a Varese Retail, aponta a segmentaçã­o como uma tendência entre os tiveram resultado positivo no varejo.

“É vital se posicionar, seja apostando em segmentaçã­o ou mostrando que o diferencia­l é a variedade”, afirma o consultor, que cita como exemplo a rede japonesa Daiso, de itens mais baratos com design do Japão. “Um dos segredos deles é a curadoria.”

A rede paulistana Lojas Mel aposta no sortimento e na alta rotativida­de de produtos. Com o slogan “tem de tudo”, vende itens domésticos, eletroport­áteis, cama, mesa e banho e perfumaria. “Mas mesmo com uma margem de lucro muito baixa, investimos em qualidade”, diz o gerente Jean Carlos Lima, 42.

Apesar de ter poder de negociação com grandes fornecedor­es, a rede ainda enfrenta desafios. Nos quatro primeiros meses deste ano, o volume de vendas cresceu cerca de 2% em relação ao mesmo período de 2017. Para o ano todo, a expectativ­a é que as vendas subam 5%.

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