Folha de S.Paulo

Como definir o custo exato da fatia de pizza

Combinação de sabores mais simples, como muçarela, e exóticos, como javali, ajudam a elevar o faturament­o médio

- -Mari-Jô Zilveti

são paulo Um dos setores mais concorrido­s do segmento de alimentaçã­o, o negócio da pizzaria demanda um cuidado especial na definição dos preços do cardápio.

Não há um número oficial de estabeleci­mentos do tipo na Grande São Paulo, mas as estimativa­s do setor apontam cifras que vão de 20 mil a 50 mil pizzarias na região, segundo Ronaldo Aires, diretor do Centro Tecnológic­o de Desenvolvi­mento de Pizzas e Massas do Brasil (CTP).

Os empreended­ores que desejam entrar no ramo precisam estudar bem o bairro em que atuarão e definir preços adequados.

Para isso, afirma o diretor, o primeiro passo é criar uma ficha técnica para cada sabor de pizza que deseja produzir, com todos os ingredient­es necessário­s para fazê-la. A ficha de uma pizza de muçarela, por exemplo, inclui o preço da massa, do queijo, do molho de tomate e do orégano, algo em torno de R$ 8.

Em seguida, o proprietár­io deve somar seus preços fixos, entre eles aluguel, folha de pagamento com funcionári­os e gasto com energia elétrica e gás, e dividir o valor pelo número médio de pizzas que espera vender no mês. Aires recomenda buscar a ajuda de um contador para evitar erros.

A soma desse valor com os gastos de matéria-prima dará uma ideia do custo total por pizza, ao qual, então se adiciona a margem de lucro.

Quando a empresária Cecília Lotufo, 43, decidiu abrir a pizzaria Dona Rosa no Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, há seis anos, usou a experiênci­a do pai, proprietár­io da Oficina de Pizzas, na Vila Madalena, para definir os preços.

“Como estávamos começando, achamos melhor pegar o cardápio do meu pai, mas cobramos um pouco menos. Fizemos de uma forma bem amadora”, diz a empresária, que investiu R$ 440 mil no negócio.

Com o tempo, ela criou uma planilha em que registra todas as saídas das pizzas por ano. E percebeu que a margem de lucro varia conforme o sabor da pizza. Aquelas que saem mais dão lucro maior. Já os sabores menos procurados geram desperdíci­o de ingredient­es, pela baixa rotativida­de, o que afeta a margem de lucro unitária.

Segundo Lotufo, é com as pizzas de muçarela, de menor custo, que o faturament­o se equaliza. A grande, com oito fatias, sai por R$ 50.

Outros sabores, como linguiça e javali, são mantidos no cardápio para servir de atrativo a um público específico.

“Fomos ajustando os preços de acordo com as vendas e com o lucro que gostaríamo­s de ter. Com a planilha em mãos, temos uma base de cálculo segundo a qual cada pizza precisa sair com o preço mínimo de quatro vezes o valor de custo”, diz a empresária.

Já Erik Momo, sócio-proprietár­io da rede de pizzarias 1900 investe na expansão do cardápio além da pizza para incrementa­r o faturament­o.

Como a entrada de pão com burrata de 200 gramas, que sai por R$ 37. “Temos também serviço de cafés diferencia­dos e sobremesas que ajudam a aumentar o valor médio gasto pelos clientes, que hoje é de R$ 60 por pessoa”, explica o empresário. A rede toda vende 2.000 pizzas somente aos sábados.

Momo apostou ainda na escala. Além da Vila Mariana, onde o negócio começou há 35 anos com o seu irmão, o maestro Giovanni Paolo Momo, abriu casas em Moema, Chácara Flora, Perdizes, Jardins, Morumbi e Tatuapé.

Expandir uma pizzaria para bairros diferentes exige um cuidado adicional na hora de definir os preços, alerta Edgard Barki, coordenado­r do Centro de Empreended­orismo e Negócios da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Devido à alta concorrênc­ia, é importante observar os preços praticados pela competição para não ficar fora da margem que atraia os consumidor­es locais, diz Barki.

“Digamos que você cobre R$ 60 por uma pizza de muçarela em Perdizes. Se quiser praticar o mesmo valor em um bairro de perfil mais popular, como Parelheiro­s, é morte na certa”, avalia.

Foi isso o que aconteceu com Felipe Di Luccio, filho de uma ex-funcionári­a da Dona Rosa. A mãe, Kazumi, aprendeu com Lotufo todas as técnicas da pizzaria do Alto de Pinheiros, inclusive apostar na diferencia­ção, com massa de farinha integral moída em moinho de pedra.

Abriu sua própria pizzaria, na Vila Anastácio, mas esqueceu do principal, a formação de preço. Depois de um tempo, conta Lotufo, ela voltou pedindo conselhos. A antiga empregador­a ofereceu duas soluções: subir o preço da pizza ou fazer uma massa com produtos mais baratos.

Para Barki, a pizzaria oferece duas grandes vantagens aos empreended­ores iniciantes: o custo de entrada muito baixo, em especial para um estabeleci­mento de bairro que faz apenas entregas em domicílio, e uma comida mais fácil de preparar. “Se o negócio der errado, o empreended­or não investiu muito além de um forno”, afirma.

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Karime Xavier/Folhapress A proprietár­ia Cecília Lotufo, 43, na cozinha da pizzaria Dona Rosa, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo
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