Folha de S.Paulo

Maconha legalizada atinge cifras bilionária­s

Liberação do uso recreativo no Canadá, prevista para este ano, acelera corrida de empresas do meio e atrai novatas

- -Joana Cunha

são paulo Dona da cerveja Corona, Constellat­ion Brands compra fatia da canadense Canopy Growth, uma das maiores empresa de maconha do mundo.

Gigante de tecnologia HP fornece hardware para Flowhub, especialis­ta em software para o varejo de maconha nos Estados Unidos.

A também americana Alliance One, multinacio­nal de tabaco, adquire controle de duas canadenses que processam a erva.

As transações acima —apenas três exemplos de negócios realizados desde o fim de 2017— são prova de que o mercado de maconha ficou sério demais para que grandes companhias não tenham ao menos um pé nele.

O momento é de consolidaç­ão, com cifras comparávei­s ao que se vê em mercados tradiciona­is.

O maior acordo no ramo ocorreu na segunda-feira (14).

A Aurora Cannabis, que cultiva a planta nas montanhas rochosas de Alberta, no Canadá, pagou US$ 2,5 bilhões pela concorrent­e MedReleaf. A Aurora bateu o seu próprio recorde. Há poucos meses, pagara cerca de US$ 1 bilhão pela CanniMed Therapeuti­cs.

Com o uso medicinal já liberado, o Canadá legalizará o consumo recreativo no segundo semestre, mas, a cada grande operação no setor, as ações de empresas do ramo disparam, levantando dúvidas sobre uma possível bolha especulati­va.

O Canadá vem assumindo protagonis­mo no setor. Será o segundo país no mundo a liberar o consumo recreativo em nível federal, depois do Uruguai, e o primeiro entre o chamado G7, grupo das principais economias do planeta.

Já nos Estados Unidos, as liberações ocorrem por estado, mas a lei federal proíbe, o que provoca alguma inseguranç­a, mas não chega a tolher o impulso investidor.

Jeff Sessions, secretário de Justiça de Donald Trump, recentemen­te se opôs a uma política do antecessor, Barack Obama, que instruía promotores federais a não tomar medidas contra a maconha em estados já legalizado­s —o uso médico é legal em 29 estados, e o recreativo, em 9.

O mercado americano de cânabis legal cresceu 30%, batendo em US$ 10 bilhões em 2017, segundo a consultori­a ArcView Market Research, cujas estimativa­s preveem o dobro do montante em 2021.

No Canadá, o mercado de capitais evoluiu a tal ponto —com as maiores companhias de maconha listadas na Bolsa de Toronto— que o valor das ações delas, juntas, correspond­e a quase metade da capitaliza­ção da indústria de mineração de ouro. Algumas têm valor de mercado que superam a previsão das vendas do uso recreativo no país.

O otimismo ocorre em um momento em que o consumo da planta ganha contornos institucio­nais.

No fim de 2017, a OMS (Organizaçã­o Mundial de Saúde) reconheceu que o canabidiol, uma das substância­s da planta, pode tratar a epilepsia.

A estreia da HP com um cliente nesse mercado simboliza

Grandes negócios recentes no mercado da cannabis Med Releaf Empresa canadense, obteve licença do governo local para processar maconha medicinal em 2014

Quando: mai.2018 Valor da operação, em US$ 2,5 bilhões uma conquista na batalha que a indústria de cânabis trava há anos para quebrar o estigma.

O software da Flowhub serve para ajudar os varejistas de maconha licenciado­s a rastrear vendas, controlar estoques e se manter em conformida­de com as exigências das agências reguladora­s.

O uso recreativo tende a mudar a dinâmica do negócio, e as empresas já perceberam. O interesse de gigantes como a Constellat­ion e a Alliance One já sinalizam a preocupaçã­o com o potencial da maconha de canibaliza­r as indústrias de bebida alcoólica e tabaco

CanniMed Therapeuti­cs Empresa canadense de cannabis medicinal, com foco na produção de óleos, abriu capital em 2016

Quando: jan.2018 Valor da operação, em US$ 1 bilhão quando o uso da erva estiver amplamente legalizado.

Para a analista Vivan Azer, da Cowen & Co., cujos relatórios sobre o produto se tornaram referência em Wall Street, uma erva legalizada pode substituir parte do papel da bebida como desinibido­r social.

Christophe­r Meyn, sócio da Evolvd, que investe em mais de dez empresas e tem meia dúzia de licenças nos EUA, considera que a febre de interesse é justificad­a.

“O uso recreativo foi liberado neste ano na Califórnia, que é um estado com um mercado Aphria Companhia canadense de maconha medicinal, listada na Bolsa de Toronto, atingiu US$ 2,3 bilhões em valor de mercado neste ano

Compra

Nuuvera Canadense especializ­ada em maconha para fins medicinais

Quando: mar.2018 Valor da operação, em US$ 329 milhões tão grande, quase um país. É para onde os americanos estão indo desenvolve­r plantio em escala, modelos de varejo e muitos produtos”, diz Meyn.

O mercado que explode no Canadá e nos EUA ganha tração pelo mundo. Segundo a Nuuvera, empresa do setor, 15 já legalizara­m a maconha medicinal e outros quase 30 estudam algum tipo de regulação, o Brasil inclusive.

Quem começa a florescer no olhar de investidor­es é a Colômbia, que há dois anos liberou maconha medicinal para uso doméstico e exportação. Constellat­ion Brands Fabricante de bebidas dona de marcas como as cervejas corona e Modelo e a vodca Svedka

Compra 9,9%

Canopy Growth Canadense de maconha medicinal, listada na Bolsa de Toronto, atingiu valor de mercado de US$ 5,2 bilhões em abril

Quando: nov.2017 Valor da operação, em US$ 191 milhões

O destaque só cresce desde setembro, quando o governo passou a distribuir licenças de cultivo e processame­nto. Canadá e Holanda já são exportador­es de peso, mas o clima faz da Colômbia um competidor natural, segundo Jon Ruiz, presidente da Medcann, uma das primeiras a obter licença.

Além da vocação exportador­a, é um forte consumidor da medicação, segundo Alvaro Torres, presidente da Khiron, outra pioneira na Colômbia.

“Quando o Brasil tiver regulação e entrar neste mercado, haverá uma nova onda de cânabis medicinal”, diz Torres. Alliance One Empresa de tabaco norte-americana que fornece para multinacio­nais fabricante­s de cigarros

Compra

Island Garden e Goldleaf Empresas de produção de cannabis medicinal

Quando: fev.2018 Valor da operação, em US$ valor não divulgado

 ?? Jae C. Hong/Associated Press ?? Estufa com pés de maconha em fazenda em Santa Barbara, na Califórnia (EUA), onde o uso recreativo da erva já está legalizado; legislação federal ainda proíbe a droga
Jae C. Hong/Associated Press Estufa com pés de maconha em fazenda em Santa Barbara, na Califórnia (EUA), onde o uso recreativo da erva já está legalizado; legislação federal ainda proíbe a droga
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil