Folha de S.Paulo

Só 8% dos PMs saem ilesos de ataques em SP

- Colaborou Júlia Barbon Sim 4 Não informado

Se a policial militar de Suzano não entrará nessa estatístic­a, será diferente com um colega de farda dela cuja ação também foi filmada por câmeras um dia depois, em Guarujá, no litoral de São Paulo.

No domingo (13), ele matou um ladrão que, durante um assalto, passou a perseguilo dentro de uma drogaria. O PM, nesse caso, era um alvo.

A cabo da PM que reagiu em Suzano, ao lado da filha e de outras crianças e famílias que participar­iam de evento do Dia das Mães, foi homenagead­a pelo governador de São Paulo, Márcio França (PSB).

O ato contrariou a estratégia da polícia de evitar a exaltação de ocorrência­s com mortes — especialis­tas temem que isso passe mensagem à tropa de incentivo à letalidade policial.

Parte dos relatórios da Corregedor­ia da PM analisados pela Folha foi redigida pelo sargento Maurício dos Santos, 49. Ele se aposentou no ano passado, após 28 anos de corporação, sendo 26 deles no setor de PMs vítimas, e participou de centenas de apurações de policiais atacados — inclusive de um colega que trabalhava nessa mesma equipe.

Maurício afirma que os resultados do levantamen­to refletem aquilo que ele presenciou ao longo dos anos. Por isso, ele passou a defender o desarmamen­to de policiais nos horários de folga.

Para ele, essa medida reduziria a quantidade de mortes especialme­nte nos roubos. Nesses casos, o bandido geralmente já chega com arma em punho, não dá chance de o policial reagir e atira assim que encontra o armamento.

“Se for pego com a arma, vai morrer. O crime não perdoa”, afirma Maurício. Nessas quase três décadas, ele diz não se lembrar de nenhum caso de alguém que tenha sido poupado pelos criminosos após ser identifica­do como PM.

O coronel Marcelino Fernandes, comandante da corregedor­ia, onde trabalha há 24 anos, conta se recordar de apenas dois casos de policiais poupados por criminosos. Isso, porém, há muitos anos.

O cenário se agravou, para ele, depois do cresciment­o do crime organizado e a glamorizaç­ão disso na sociedade. “Eles [bandidos] crescem na organizaçã­o criminosa. Hoje, não escondem nem os sinais [atribuídos a quem mata policiais]. Querem [tatuagens de] palhaços desenhados, carpas, para mostrar aquilo que são no crime: matador de policial.”

Além da mudança do perfil dos criminosos, o oficial aponta a legislação brasileira como agravante do problema ao permitir, por exemplo, saídas temporária­s da prisão de detentos sem condições de voltar às ruas. “O sangue desses PMs não está somente nas mãos do criminosos, mas também nas mãos de muitos congressis­tas”, afirma Marcelino.

Entre os 218 mortos no levantamen­to feito pela Folha está o soldado Osmar Santos Ferreira, 31, assassinad­o a tiros em 22 junho de 2012.

Um dos suspeitos de participar do crime era um rapaz de 23 anos foragido depois de conseguir autorizaçã­o para passar o Dias dos Pais fora da prisão. Ele cumpria pena por roubo, tráfico de drogas e formação de quadrilha.

Ferreira morreu numa sexta-feira, véspera do aniversári­o do filho Gustavo, que completava cinco anos e tinha a festinha preparada. “É uma dor muito grande perder um filho assim”, diz Gedalva Maria dos Santos, 66, mãe do PM. “Eu sinto muita dó quando vejo, pela TV, outros pais e outras mães passando pelo que eu passei. É como se eu morresse todos os dias mais um pouquinho”, afirma.

O coronel Marcelino diz ainda que, para tentar reduzir o número de policiais mortos ou feridos, a PM realiza um trabalho de conscienti­zação. Um dos motes é sugerir ao PM que ele seja o mais discreto possível no horário de folga (quando acontece a maioria dos ataques) — desde o uso de redes sociais até o modelo de moto adquirida. Em 20% dos ataques, o policial estava em moto.

Motos com menos cilindrada­s não atraem muito interesse de criminosos. “Precisa evitar principalm­ente a abordagem surpresa em que ele pode ser vítima”, afirma Marcelino. Reportagem analisou 491 registros de violência contra policiais militares de 2006 a 2013*

Só 8% dos policiais atacados

não morreram ou se feriram Caracterís­ticas dos policiais 9 de cada 10 agentes atacados não estavam

438 Não 218 Mortos 85% deles estavam armados fardados

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