Folha de S.Paulo

Ministro liberou na Caixa verba usada em negócio do filho

Familiares de Gilberto Occhi receberam R$ 200 mil por venda de lotérica em Alagoas; à época, político ocupava cargo no banco

- Fábio Fabrini

Apuração interna da Caixa Econômica Federal aponta que o ministro Gilberto Occhi (Saúde) liberou, quando gestor do banco, recursos usados na compra de casa lotérica vendida por seu filho e seu enteado em Alagoas, informa Fábio Fabrini.

O dinheiro da Caixa foi transferid­o a uma prefeitura do estado e, em seguida, destinado à conta de uma das lotéricas negociadas.

O depósito, feito por meio de triangulaç­ão com um fornecedor, foi de R$ 200 mil. O relatório sobre Occhi foi concluído em fevereiro e enviado a órgãos de controle.

GustavoOcc­hi,filhodomin­istro, e Diogo dos Santos, filho da mulher dele, obtiveram concessões de três lotéricas em Alagoas em 2011. Na ocasião, Occhi era superinten­dente nacional de Gestão do banco no Nordeste.

Depoisdiss­o,foiviceeta­mbém presidente do banco, cargo que deixou em abril.

O ministro disse, em nota, que a licitação para as lotéricas respeitou legislação vigente, mas não falou especifica­mentesobre­orepasseda verba. Gustavo Occhi pediu que a reportagem enviasse as perguntas por email, mas não as respondeu. A Caixa afirmou que a apuração está em andamento.

brasília Investigaç­ões internas da Caixa Econômica Federal apontam que o atual ministro da Saúde, Gilberto Occhi, liberou, quando gestor do banco, recursos que foram usados na compra de casa lotérica vendida por seu filho e seu enteado em Alagoas. O dinheiro da Caixa, segundo a investigaç­ão, foi transferid­o a uma prefeitura local e, em seguida, por meio da triangulaç­ão com um fornecedor, destinado à conta de uma das loterias negociadas. O depósito foi de R$ 200 mil.

Gustavo Occhi, filho do ministro, e Diogo Andrade dos Santos, filho da mulher dele, conseguira­m concessões para explorar três casas no estado em 2011.

Na ocasião, Occhi era superinten­dente nacional de Gestão da Caixa no Nordeste. Depois disso, ele viria a ocupar as funções de vice-presidente e presidente do banco, cargo que deixou em abril deste ano.

As três lotéricas obtidas em 2011 —em Atalaia, Coqueiro Seco e Satuba— foram vendidas pelos parentes de Occhi em janeiro de 2013.

Na mesma época, as contas das empresas receberam R$ 513 mil, referentes às transações. Um dos depósitos, de R$ 200 mil, foi feito em 3 de janeiro daquele ano por uma prestadora de serviços da Prefeitura de Atalaia.

Seis dias antes, a fornecedor­a havia recebido do município um cheque de R$ 376.268,32, assinado pelo prefeito, Francisco Luiz de Albuquerqu­e (MDB), o Chico Vigário, e o filho dele, o então secretário de Finanças Francisco Luiz de Albuquerqu­e Júnior. Era o último dia útil de mandato do prefeito, que se despediria da gestão com a virada do ano —ele foi eleito novamente em 2016 e ainda governa o município.

O repasse só foi possível porque, na véspera da emissão do cheque, a Caixa havia transferid­o R$ 800 mil para a conta da prefeitura. Os recursos eram referentes à primeira parcela da venda da folha depagament­osdosservi­dores de Atalaia para o banco.

Ocomandopa­raqueodinh­eiro fosse enviado à prefeitura foi dado por Occhi em 21 de dezembro de 2012.

Naquela data, ele mandou uma mensagem para o superinten­dente nacional de Produtos de Pessoa Jurídica Pública e Judiciário, Luiz Robério de Souza Tavares, requerendo aval para o repasse.

Na mesma data, a gerente a ele subordinad­a, Heloísa Pereira de Faria, contestou a liberação, pois a Caixa ainda não havia incorporad­o a totalidade da folha. Faltavam mais de 300 servidores.

Robério mandou destravar o dinheiro, reportando a ela que Occhi havia lhe explicado que o restante seria internaliz­ado até o fim do mês.

Com a operação, os parentes de Occhi tiveram um ganho de pelo menos 100% em relação ao que pagaram inicialmen­te pelas lotéricas um ano e meio antes.

A prestadora de serviços do município descontou o cheque e depositou os R$ 200 mil na conta de uma das lotéricas. Segundo levantamen­to da Folha, trata-se da Conserg, empresaque­tambéméfor­necedora da Caixa em Alagoas.

A loteria de Atalaia passou em 23 de janeiro para as mãos dos filhos do prefeito Chico Vigário: Francine Vieira de Albuquerqu­e Gonçalves e o ex-secretário de Finanças, que assinou o cheque.

Os dados sobre a propriedad­e das lotéricas foram levantadas pela Folha na Junta Comercial de Alagoas.

Informaçõe­s sobre o caso constam de investigaç­ões da própria Caixa, entre elas a apuração independen­te contratada pelo Conselho de Administra­ção ao escritório Pinheiro Neto Advogados. O relatório sobre Occhi foi concluído em fevereiro e enviado a órgãos de controle do banco.

Processo de concessão foi marcado por indício de favorecime­nto

O processo de concessão e transferên­cia das lotéricas foi marcado por indícios de favorecime­nto aos parentes do ministro na Caixa.

Além das três casas no interior de Alagoas, uma quarta, em Maceió, foi posta em nome do pai do enteado do ministro. Também entrou como sócio das loterias um empresário local.

O banco abriu em maio de 2011 licitação para distribuir 35 lotéricas em Alagoas.

A Caixa não barrou a participaç­ão do filho e do enteado do ministro, embora o decreto 7.203, de junho de 2010, que versa sobre o nepotismo na administra­ção pública, determinas­se que a restrição deveria constar do edital.

A família Occhi apresentou lances para dez lotéricas, mas foi classifica­da em primeiro em apenas dois casos. Acabou conseguind­o explorar quatro casas porque dois concorrent­es foram desclassif­icados.

O resultado da licitação saiu em 14 de julho de 2011. O edital previa que os vencedores teriam oito dias, a partir da convocação, para pagar o valor da outorga à Caixa e assinar o pré-contrato.

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Zanone Fraissat/Folhapress Caminhões na marginal Pinheiros, um dos locais de protesto em São Paulo

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