Folha de S.Paulo

Bomba adulterada

- Bruno Boghossian helio@uol.com.br

brasília “Acabou a influência política na Petrobras”, declarou um Pedro Parente otimista, ao assumir a estatal,em2016.Orecém-empossadoM­ichel Temer dera carta branca à companhia para reverter a ruína provocada pelo governo Dilma Rousseff.

O presidente cumpriu o prometido. Com respaldo do Planalto, a petrolífer­a se recuperou sob um novo modelo de gestão. Removeu amarras de sua política de preços e passou a fazer reajustes quase diários, seguindo o mercado internacio­nal.

“Nós salvamos a Petrobras”, afirmouTem­er,orgulhoso,nacerimôni­a em que celebrou dois anos no poder.

E, então, sopraram os ventos de mais uma campanha eleitoral.

Os riscos políticos fizeram com que o presidente ameaçasse romper a blindagem da estatal para tentar conter a subida da gasolina e do diesel. Nos últimos dias, Temer começou a ceder à pressão de aliados que veem na escalada de preços um prejuízo brutal para suas candidatur­as.

Na contramãod­eseudiscur­so prómercado, o Planalto estuda intervir nas regras de reajuste. “Vamos ver se encontramo­s um ponto em que possamos ter mais controle”, disse Eliseu Padilha (Casa Civil).

Se quiser manter a estatal imaculada, Temer precisará atingir outro pilar que sustentou seu governo nas sucessivas crises que enfrentou. A saída será reduzir impostos sobre combustíve­is, contrarian­do a equipe econômica. “Não temos condições de reduzir a arrecadaçã­o”, afirmou Eduardo Guardia (Fazenda).

A intenção do governo é legítima, mas o método lembra uma conhecida maquiagem eleitoral. Em quatro das últimas cinco disputas presidenci­ais, o Planalto segurou artificial­mente os preços dos combustíve­is e liberou aumentos logo depois.

O litro da gasolina bateu R$ 5 em alguns postos do Rio antes que os governista­s Michel Temer e Henrique Meirelles (MDB) chegassem a 5% das intenções de voto. Em breve, o preço também pode encostar em Geraldo Alckmin (PSDB), com seus 6%.

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