Folha de S.Paulo

Deus o fez assim e o ama, afirma papa Francisco a gay vítima de abuso

Segundo chileno Juan Carlos Cruz, que denunciou pedofilia na igreja, declaração foi dada em encontro privado

- Reuters e Associated Press

madri e vaticano Um chileno que sofreu abuso sexual por parte de religiosos afirmou que o papa Francisco lhe disse, durante uma conversa privada, que Deus o fez gay e o ama dessa maneira, segundo o jornal espanhol El País.

O Vaticano não quis comentar. Alguns ativistas considerar­am que, se confirmada, a declaração do papa terá sido uma forte demonstraç­ão de tolerância em relação à homossexua­lidade, algo que a Igreja Católica tradiciona­lmente rejeita.

Em entrevista publicada no domingo (20), a vítima de abusos Juan Carlos Cruz afirmou ao diário espanhol que o papa lhe disse: “O fato de você ser gay não importa”.

“Deus o fez assim e o ama dessa maneira, e para mim não importa. O papa o ama dessa maneira, e você deve ser feliz do jeito que é”, disse Francisco, segundo Cruz.

Cruz foi um dos principais impulsiona­dores das denúncias de abuso no Chile e uma das vítimas que foram convidadas para um encontro com o papa neste mês.

Após uma audiência com o pontífice na semana passada, todos os 34 bispos chilenos apresentar­am sua renúncia, devido ao escândalo de pedofilia no país.

Desde que foi eleito papa, em 2013, Francisco mudou a linguagem da igreja em relação aos gays.

“Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para julgar?”, afirmou ele em sua primeira viagem internacio­nal, em julho daquele ano.

Em 2016, o papa disse que dava a comunhão a homossexua­is que mantinham a castidade. “Quando uma pessoa chega diante de Jesus, Jesus certamente não vai dizer: Vá embora porque você é gay”, afirmou o papa na ocasião.

Seu predecesso­r, o papa Bento 16, escreveu em 2015 que a homossexua­lidade era um “mal moral intrínseco”.

Francis DeBernardo, diretor-executivod­oNewWaysMi­nistry, que defende igualdade para os católicos LGBT, disse que a declaração do papa foi “tremenda”efarámuito­bem. “Seria muito melhor se ele fizesse declaraçõe­s desse tipo publicamen­te, porque LGBTs precisam ouvir essas mensagens dos líderes religiosos, dos líderes católicos”, ponderou.

O jesuíta James Martin pontuou o fato de as declaraçõe­s teremsidod­adasemumac­onversa privada, e não em um documento ou num pronunciam­ento público. Mas as considerou significat­ivas.

“O papa está dizendo o que muitos biólogos e psicólogos dirão, ou seja, que as pessoas não escolhem sua orientação sexual”, afirmou Martin.

Outros minimizara­m as declaraçõe­s, dizendo que elas simplesmen­te espelham a atitude pastoral de Francisco. “O que o papa está dizendo é ‘Deus te ama e te fez como você é; portanto, você deve se aceitar enquanto luta para viver de acordo com o Evangelho’”, disse Robert Gahl, teólogo da Pontifical Holy Cross University.

O catecismo da Igreja Católica diz que pessoas com “tendências homossexua­is” “devem ser aceitas com respeito, compaixão e sensibilid­ade”, mas também que a homossexua­lidade é “intrinseca­mente uma desordem” e “contrária à lei natural”.

No fim de semana, o papa apontou 14 novos membros para o Colégio de Cardeais, 11 deles com menos de 80 anos. O órgão, com 125 cardeais, escolherá o sucessor de Francisco em um novo conclave.

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Andres Kudacki - 17.fev.2018/Associated Press Juan Carlos Cruz teve encontro privado com o papa Francisco

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