Folha de S.Paulo

Alta do dólar traz renda ao campo, mas pode dificultar planejamen­to

- Mauro Zafalon mauro.zafalon@uol.com.br

A alta do dólar traz renda ao campo, aponta para um novo cenário em 2019, mas requer cuidados e dificulta planejamen­to no setor.

A valorizaçã­o da moeda dos EUA afeta não apenas o real mas a divisa de vários países. “A pergunta que deve ser feita é qual será a duração dessa valorizaçã­o”, diz Fernando Muraro, analista da AgRural.

Se for curta, o mercado agropecuár­io se ajusta. Se for longa, haverá impacto no mercado de commoditie­s.

Dólar em alta exigirá mais dinheiro dos países importador­es na compra de commoditie­s, inibindo a demanda.

“Historicam­ente, as elevações da moeda norte-americana têm sido positivas para a cadeia agropecuár­ia”, diz Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSecto­r. Ele lembra, porém, que o enfraqueci­mento do real traz elevação de custos para os produtores.

O Brasil é dependente de fer- tilizantes e de produtos químicos. Pelo menos 60% dos produtores já adquiriram os insumos para a próxima safra. Os outros 40% vão pagar caro por esses produtos.

Dentro da porteira, os agricultor­es que ainda têm produ- tos exportávei­s serão benefícios a curto prazo, segundo Anderson Galvão, analista da consultori­a Céleres.

Há uma preocupaçã­o, no entanto, porque a alta não é garantia de renda no ano que vem. Assim como o produ- tor obtém mais reais na venda da soja, do milho, do café e dos demais produtos exportávei­s, ele gasta mais reais para a compra dos insumos para a próxima safra.

A alta do dólar vem sendo provocada por motivos externos, e a estabilida­de da moeda dos EUA também vai depender de medidas econômicas externas, segundo Galvão.

O pior dos mundos para o produtor seria pagar os insumos importados a R$ 3,70 ou R$ 4,00 por dólar nos próximos meses e vender a produção a R$ 3,10 a R$ 3,20 no próximo ano, segundo ele.

Fernando Cardore, vice-presidente­daAprosoja-MT(Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso), concorda que poderá haver o aumento de receitas no curto prazo. Grande parte da safra, contudo, já foi comerciali­zada a um dólar com valores defasados, afirma.

Para ele, essa volatilida­de da moeda dos EUA traz uma inseguranç­a no setor. Ela dificulta as operações de hedge (proteção contra oscilações de mercado) e, consequent­emente, até o planejamen­to.

Para Galvão, a mudança de rumo do dólar afeta inclusive as empresas de insumos, principalm­ente as que não têm estoques. Vão pagar mais pelos produtos nas importaçõe­s e terão dificuldad­es nos repasses em uma eventual redução do valor da moeda norte-americana em 2019.

A valorizaçã­o do dólar poderá mudar o cenário para a agricultur­a no próximo ano, dizem Silveira e de Galvão.

O primeiro acredita em um 2019com um patamarde produçãoma­ior,enquantoGa­lvão refez os cálculos de ocupação de área agrícola no país.

Uma remuneraçã­o melhor pelos produtos agrícolas poderá elevar a área de plantio de soja em 1,5 milhão de hectares na safra 2018/19. Neste ano, foi de 34,7 milhões. A previsão anterior era de uma evolução de 700 mil a 1 milhão.

Amelhorano­spreçosdom­ilho vai fazer com que os produtores também deem mais atenção ao cereal.

O aumento de área na safra de verão deverá ser de 500 mil hectares. Na de inverno, o aumento poderá atingir1 milhão de hectares, segundo Galvão.

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