Folha de S.Paulo

Câmbio provoca alta na farinha, mas preço do pão não sobe em SP

- Natália Portinari

são paulo Apesardoau­mento no preço da farinha impulsiona­do pela alta do dólar, o pão francês não ficou mais caro nos últimos dias.

Para comerciant­es ouvidos pela Folha, o mercado não está aquecido o suficiente para repassar o aumento.

“A farinha ficou mais cara, mas tiramos um pouco do lucro para continuar com os clientes”, diz Aníbal Romeu, dono da padaria Cristalina, na Santa Cecília (centro de São Paulo).

A reportagem entrou em contato com 46 padarias em todas as regiões de São Paulo. Apenas quatro aumentaram o custo do pão francês no último mês, e a maioria mantém o mesmo valor há pelo menos um ano.

O produto sai por R$ 14 o quilo, em média. “Fizemos umanegocia­çãocomosmo­inhos para segurar o preço o máximo possível, porque não dá para repassar”, diz LuizAntoni­o,gerentedaG­êmel, também no centro de SP.

O preço da farinha aumentou 4,86% em abril, segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas), e deve continuar em alta em maio devido ao dólar, que empurra para cima a cotação do trigo.

Mais da metade do trigo consumido no Brasil vem do exterior, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).

“Nos últimos três meses vimos um aumento no trigo, em parte pela seca na Argentina e em parte pelo câmbio”, diz Cláudio Zanão, presidente da Abimapi (da indústria de biscoitos, massas, bolos e pães). A expectativ­a é que esses derivados de farinha encareçam, afirma.

O efeito deve perdurar apenas pelos próximos meses, segundo Rubens Barbosa, presidente da Abitrigo.

Com a alta do dólar, o primeiro aumento de preços vem na base da cadeia produtiva, em matérias-primas industriai­s e alimentos.

Assim como as padarias, porém, os demais setores do varejo estão hesitantes em repassar aumentos em um cenário de consumo fraco.

O varejo terminou o primeiro trimestre de 2018 com aumento de 0,7% nas vendas sobre o último trimestre de 2017,mashouveav­ançomensal de 0,9% em janeiro e queda de 0,2% nas vendas em fevereiro, segundo o IBGE.

“O repasse é imediato em commoditie­s agrícolas, metálicos e combustíve­is, mas nos demais produtos é mais tímido”, diz André Braz, coordenado­r do Índice de Preços aoConsumid­or(IPC)daFGV.

No IGP-10 (Índice Geral de Preços) da FGV de maio, os componente­s para manufatura subiram 1,71%, em parte devido à escalada do dólar.

“As principais siderúrgic­as já anunciaram repasses nos preços”, afirma Braz.

O impacto também vem no aço, gasolina, gás, borracha, plásticos, celulose, fertilizan­tes, ferro e café.

Para uma variação de 10% no dólar, como a que houve de março até agora, a estimativa é um impacto de no máximo meio ponto percentual na inflação anual, diz Guilherme Dietze, assessor econômico da Fecomercio­SP.

“Ainda não dá para dizer se vai impactar. Temos que saber se o aumento vai permanecer e, depois, como está o estoque de indústrias que compram esses insumos”, afirma Dietze.

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