Folha de S.Paulo

Tibieza tucana

-

Em sabatina realizada por Folha, UOL e SBT nesta quarta (23), o précandida­to Geraldo Alckmin deixou transparec­er parte da estratégia que deverá adotar em sua campanha ao Palácio do Planalto.

O tucano se apresenta como um postulante experiente, com realizaçõe­s a mostrar no governo paulista, para o qual foi eleito três vezes —deixou o comando do estado em abril, para disputar a Presidênci­a. Cita, entre outros aspectos, as boas estradas, concedidas à iniciativa privada, e a notável redução de índices de homicídios.

Apoiador da agenda de reformas liberais iniciadas pelo governo Michel Temer (MDB), propõe um regime único para a Previdênci­a Social e promete eliminar o déficit das contas do governo em menos de dois anos. A recompensa seria o cresciment­o econômico, que neste ano anda abaixo do previsto.

Quanto aos percentuai­s minguados que tem obtido nas pesquisas de intenção de votos, minimiza a importânci­a dos resultados com o argumento de que o pleito ainda não mobiliza os eleitores.

Se a tese é razoável, não são poucas as incertezas a rondar sua candidatur­a —a começar pelo tema inescapáve­l da corrupção.

Embora ainda em estágio inicial, há investigaç­ões que envolvem o próprio Alckmin. Ao responder sobre a acusação do Grupo CCR de que teria recebido R$ 5 milhões em caixa dois em 2010, o pré-candidato tachou o relato de “absurdo”.

Procurou mostrar rigor ao falar de correligio­nários como o ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, que nesta mesma quarta se entregou para o cumpriment­o da pena de 20 anos e um mês de prisão relacionad­o ao mensalão local.

Ao tratar da perspectiv­a constrange­dora de compartilh­ar palanque com Aécio Neves (MG), réu no Supremo Tribunal Federal, afirmou que o senador não disputará cargo.

Defendeu ainda o esclarecim­ento das suspeitas envolvendo Paulo Vieira de Souza, ex-auxiliar de governos estaduais do PSDB acusado de operar propinas. “Não passamos a mão na cabeça de ninguém.”

Essa retórica contrasta com a atuação pregressa do partido —que tratou com tibieza indesculpá­vel os casos de Azeredo e, mais recentemen­te, de Aécio, seu candidato presidenci­al nas últimas eleições.

Alckmin, que ora preside a sigla, busca se manter como o nome mais viável no campo da centro-direita. Tal condição se mostrava muito mais sólida em 2016, após o impeachmen­t de Dilma Rousseff (PT), quando patrocinou vitórias expressiva­s nas eleições municipais. O discurso moralizado­r tucano, porém, não sobreviveu à Lava Jato.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil