Folha de S.Paulo

O barulho ao redor do ‘Som’

- Marco Aurélio Canônico

rio de janeiro Em 2009, o diretor Kleber Mendonça Filho se inscreveu num edital do Ministério da Cultura buscando verba para bancar seu primeiro longa, “O Som ao Redor”.

O edital era voltado a filmes de baixo orçamento, e um de seus artigos definia claramente o que isso significa: são as obras “cujo custo de produção e cópias não ultrapasse o valor de até R$ 1,3 milhão”.

Havia uma outra parte do edital, chamada “dos impediment­os e motivos para indeferime­nto da inscrição”, que repetia a informação: “projeto com orçamento superior a R$ 1,3 milhão” não poderia se inscrever.

O filme de Mendonça Filho tinha um custo inicial previsto de R$ 1,5 milhão. Não poderia, portanto, ter se candidatad­o ao tal edital. Acabou sendo um dos vencedores dele, apesar disso. Uma vez contemplad­o, ainda aumentou os custos para R$ 1,9 milhão e acabou captando R$ 1,7 milhão.

A discrepânc­ia entre o valor do filme e o teto do edital foi identifica­da na Ancine em 2010, mas a liberação da verba acabou sendo aprovada. Em 2012, ainda sob o governo Dilma, iniciou-se uma investigaç­ão que resultou, no início deste mês, num pedido de devolução integral da verba captada.

Após a Folha noticiar essa história, nesta terça (22), as redes sociais se encheram de gente acusando o MinC de perseguiçã­o política, pelo protesto que o diretor fez em Cannes contra o atual governo, em 2016. À luz da informação disponível, é difícil encampar essa tese.

Com este texto, despeço-me desta coluna. Nestes quase dois anos em que escrevi aqui semanalmen­te, o Rio degringolo­u de modo tão acelerado quanto triste, até chegar ao atual estado acéfalo, sem governo e sem direção.

O fim desta fase, no entanto, avizinha-se, trazendo consigo a possibilid­ade de mudança. Que aproveitem­os todos a chance de recomeçar. Aos leitores, agradeço pela atenção.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil